quarta-feira, janeiro 25

Os esquecidos

E por falar em Ruanda, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) acaba de divulgar uma lista com as dez crises humanitárias mais negligenciadas pela mídia em 2005.

São citados o norte de Uganda, o Sudão, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, a Chechênia, o Haiti, a Somália, a Colômbia e o
Norte da Índia, onde a população passa por situações de enorme violência, mas que não chamam a atenção da mídia. Também é citada a ausência de atenção e a quase total falta de pesquisa e desenvolvimento de novos instrumentos específicos para os portadores de HIV/Aids de baixa renda.

Aqui em Floripa a violência costuma ser notícia, mas a miséria já deixou de ser há muito tempo.

Uma questão de prioridades.

Desejo do dia: encontrar o caminho.

segunda-feira, janeiro 23

Poesia

"Que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê,
que nasce não sei onde,
vem não sei como
e dói não sei porquê."
(Luis de Camões)

Se a arte é uma tradução universal das emoções da alma, então é preciso ter uma alma falante para ser artista.

Foi preciso Camões para traduzir meus suspiros.

No caos em que anda o mundo e ciente da minha responsabilidade para com ele, não me dou o direito de reclamar, que há muito ainda a ser feito.

Mas é preciso ser artista para seguir em frente quando todas as coisas começam a sussurrar: "durma, durma...". Quando lá no fundo há euforia, mas isso, que vem não sei de onde, provoca o nocaute da preguiça e do desalento.

No momento, só um beijo apaixonado pode me acordar.

Desejo do dia: acordar.

segunda-feira, janeiro 16

Hotel Haiti

As notícias que chegam do Haiti me fazem lembrar um ótimo filme que assisti há pouco tempo "Hotel Ruanda"*, chorando. Em 1994, quase 1 milhão de pessoas foram mortas em cerca de 100 dias, sem que isso interessasse muito a ninguém fora de Ruanda.

Há quem possa dizer que é coisa lá deles, que se odeiam. Mas, segundo historiadores, a diferença étnica entre Hutus e Tutsis não existia realmente. Sempre foi algo mais ocupacional, chamavam a elite e criadores de gado de Tutsi e os agricultores de Hutus. Eles falavam a mesma língua casavam entre si e eram difíceis de distinguir. Quando os belgas colonizaram a região, fizeram um senso estabelecendo que os habitantes mais altos e de pele mais clara, narizes mais finos seriam Tutsis, deram a eles o poder e cargos públicos. Os de pele mais escura ficaram nos campos e foram chamados de Hutus. Foram emitidas carteiras de identidade definindo as etnias. Antes de ir embora, os belgas deram o poder para os Hutus. Fomentaram a separação étnica e o rancor. Por conta desse ódio, quase um milhão de pessoas foram assassinadas a tiros e golpes de facão. Bom, muitas outras atrocidades continuaram acontecendo.

A história traz um daqueles momentos de lucidez, nos quais lembro que "existem mais eventos acontecendo no mundo do que o que aparece na mídia". Ainda que aceitemos que não seja de caso pensado, os editores decidem o que nos interessa ou não saber. Se eles não noticiam, não fico sabendo, ainda que ocorra algo do meu interesse na cidade ao lado.

A Internet altera um pouco isso ao criar um novo canal de comunicação, todavia com restrições.

Poucas são as criaturas nesse mundo que podem desfrutar do modo de vida "estudo-lar-compras-viagens-carreira-aposentadoria". Poucos vivenciam esse modelo, muitos correm atrás e uma imensa parte da população mundial nem imagina o que seja. A mídia é feita para os sonhos da minoria.


Os editores não incluem nesse sonho a nossa responsabilidade com o restante dos seres humanos. Se estão isolados na África, não ameaçam grandes riquezas como o petróleo, não nos afetam, não são de interesse?

Quando eu era voluntária na Crossroads, em Hong Kong, assisti uma apresentação dos voluntários que estiveram visitando Uganda, onde as crianças são raptadas para lutar nas milícias. Antes, são forçadas a atear fogo em suas vilas e a matar membros da sua família, assim, não terão para onde voltar caso consiguam fugir. Outros voluntários manda notícias de Jeruzalém, a cidade sagrada, onde havia toque de recolher, racionamento de tudo e bombas explodindo. Outros estiveram no Afeganistão...

Aqui ao lado, nas favelas de umas das cidades com o maior índice de desenvolvimento do País, ninguém noticia histórias que poderiam gerar tristes roteiros de filmes.

Sobre a América Latina também noticiam pouco. Acontecerá no Haiti algo como em Ruanda?

Não sou comunista, nem socialista e se tivesse que me filiar a algum partido, seria o Partido Verde. Mas sei que os eventos não andam bem e que precisamos de uma nova maneira de viver.


*Um outro filme que mostra um pouco dessa realidade, mas de forma bem artificial, é "Amor sem fronteiras" com Angelina Jolie. Também estou com muito vontade de assistir "O Jardineiro Fiel".

Desejo do dia: fé.

segunda-feira, janeiro 2

Absurdo II - o incrível caso do professor "desconvidado"

Eu tive aula com o Professor Rubens na ESAG. Foi um dos melhores professores, homenageado pela nossa turma e por tantas outras. Não merecia isso:

"Excelentíssimo Dr. Professor Rubens Araújo de Oliveira

Nós da comissão de formatura 2005/2 dos cursos de Administração, Turismo, Jornalismo e GSI da faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, vimos por intermédio desta, comunicá-lo de uma situação que nos deixa muito constrangidos e de certo modo frustados: Há alguns meses, em visita pessoal entre os membros da comissão de formaturaà Vossa Senhoria, solicitamos e fomos prontamente atendidos e correspondidos na solicitação do convite, que muito nos honraria, para homenageá-lo como Patrono das turmas acima mencionadas. Até então, também foi abordado a possibilidade de um auxílio para amenizar os custos referentes a formatura.
Hoje pela manhã, fomos informados formalmente que o auxílio que poderia ser repassado aos formandos seria de R$ 1.000,00, que entendemos que esteja dentro das suas atuais possibilidades financerias. Ao repassar esta informação, a comissão e os demais formandos ficaram em uma situação delicada em face da dificuldade em completar o orçamento. Os mesmos reagiram e sugeriram o auxílio de outra pessoa, que era também cogitado aser homenageado, cujo valor disponibilizado amortizará o custo relativo ao local da colação de grau , pois contávamos com a disponibilidade do novo auditório da Estácio.
Então, diante desta situação extremamente complicada, nós da comissão acatamos o que a maioria dos formandos optou, que é de homenagear como Patrono a outra pessoa que fará uma contribuição mais elevada.
Gostariamos de agradecer o aceite e o comprometimento, nos desculpar pela alteração e pelo não cumprimento do convite que fora gentilmente aceito pelo senhor, mas diante dos fatos, a maioria decidiu que seria mais justo homenagear a pessoa que se propôs a fazer a maior contribuição para com osformandos.
Ficamos no aguardo de um retorno do recebimento deste.Atenciosamente;Alex ( ADM ) / Sabrina ( TUR ) / Deise ( JOR ) / Rafael ( ADM ) / Juliana(TUR ) / Mônica ( GSI ) Comissão de formatura 2005/2"


RESPOSTA DO PROFESSOR:

"Prezados Acadêmicos da Comissão de Formatura dos Cursos de Administração, Jornalismo e Turismo 2005-2,

Vocês não devem se sentir constrangidos. Frustados sim. Constrangidos nunca!
Quem sabe este constrangimento não setrata de vergonha! Ou falta de caráter! Ou ainda falta de ética!
Entendo que estou "desconvidado" para ser Patrono . Em minha vida de quase 30 anos como professor, devo ter sido patrono, paraninfo, nome de turma e homenageado -dezenas de vezes. Jamais imaginei que formandos convidassem e"desconvidassem" patronos por dinheiro! Enfim, sempre há uma primeira vezpara tudo.
Se eu utilizasse a mesma moeda (literalmente) é uma pena não ter sido comunicado antes... Neste caso, por idêntico critério não teria pago minha parte como "patrono" na última festinha de confraternização dos formandos.
Meus queridos ex-futuros afilhados:Eu é que me sinto constrangido. Decepcionado. Surpreso. Triste mesmo!
Constrangido porque pensei que o convite realizado fosse uma homenagem ao Ex-Diretor Geral da Estácio pela sua capacidade de administrar e levar adiante um projeto que em cinco anos tornou-se a maior escola de administração de SC.
Todos os cursos que ora estão se formando obtiveram a nota máxima de avaliação do MEC.
Patrono é isso: uma pessoa que os formandos entendam deva ser exemplo na área de atuação dos cursos.
Decepcionado porque pensei que nossos alunos honrassem o título de Bacharel após quatro anos muita de luta e sacrificio.
Patrono é isso: uma pessoa que dignifica a profissão.
Surpreso porque jamais imaginei ter sido "comprado" como Patrono. Isto é, fui "eleito" pelos formandos somente porque iria dar dinheiro para aformatura. Patrono não é isso. Patrono não se vende.
Triste porque vejo que não consegui - após quatro anos de curso superior mudar os valores de alguns alunos da Estácio SC.
Patrono é isso: uma pessoa que possui valores que prezam pela ética, moral, honra e palavra. Sinto-me aliviado. Dormirei melhor... Não consegui comprá-los por R$1.000,00.
Obviamente a honraria de ser patrono vale muito mais que isso. Tivesse eu as qualidades de um patrono acima citadas - talvez me sentisse"enojado" com a situação. Como não as possuo, sinto-me aliviado em ter poupado um dinheirinho que seria gasto com pessoas das quais me envergonho ter sentido alguma consideração de relacionamento.
Assim sendo, e como não resta alternativa com muita alegria aceito o"desconvite".
Entendo que outros formandos não devem compartilhar da mesma opinião dessa Comissão. À estes desejo sucesso e sorte. À Comissão de Formatura e aos outros que trocaram o patrono por dinheiro o meu desprezo.
Seguramente a vida lhes ensinará o que a faculdade não conseguiu!
Por último, desejo à todos a felicidade da escolha de um Patrono bem rico!
Que ele possa pagar todas as despesas e contas... Seguramente a maior qualidade do homenageado.
Que tenham uma excelente formatura.
Estarei lá - presente na qualidade deprofessor da Estácio .
Digam ao acadêmico orador - que em seu discuro não fale em qualidades dignas do ser humano. Muito menos em decência, honra,moral e ética. Se assim o fizer - irei aparteá-lo e chamá-lo de mentiroso!Atenciosamente,
Prof. RUBENS OLIVEIRA, Dr
Ex-futuro Patrono dos Cursos de Adm, Jor e Tur da Estácio de SC"


Desejo do dia: caminhada