quinta-feira, março 6

Fernando de Noronha, finalmente!

(Sim, uma pausa na suada dissertação.)




















A Ilha nos recebe com um arco-íris nos Dois Irmãos. Um sorriso?
É notório que Fernando de Noronha é um lugar belíssimo, sendo destino dos sonhos de muitas pessoas que eu conheço, em parte por causa das inúmeras reportagens que mostram o local como um paraíso na Terra. E é lindo mesmo. No entanto, o que mais me encantou não foi a paisagem, mas a vida, o contato com uma natureza que não se sente ameaçada pelo homem. Grandes Resorts, espreguiçadeiras na praia, chalés a poucos metros da areia, isso não existe por lá. Mesmo os hotéis mais arrumadinhos não ficam na beira da praia. As praias mais belas (para nós, a Baía dos Porcos, a Praia do Sancho e a Praia do Leão) ficam distantes das vilas e ainda que se vá de buggie, é preciso caminhar um tanto. Há pouquíssima gente durante o dia. Chegamos a ficar sozinhos várias vezes, mesmo em alta temporada. E são cheias de vida.
Em nosso primeiro dia, decidimos fazer uma caminhada pelas praias do mar de dentro, partindo da Vila dos Remédios. No caminho, ficamos admirados com os mergulhos dos enormes atobás nas ondas. Eles não mostravam nenhum receio e mergulhavam e nadavam ao lado das poucas pessoas que encontramos.












Foto: Bruno, no começo da nossa caminhada.
Depois de cerca de uma hora caminhando, passamos pela praia da Cacimba do Padre, onde estava acontecendo um campeonato de surf e portanto a praia estava “lotada”, com umas cento e cinquenta pessoas.
Mas eu queria chegar logo na próxima praia, a Baía dos Porcos, que eu já adorava por fotos, uma pequena baía de cerca de 50 metros, famosa por aparecer nas principais imagens dos montes Dois Irmãos, símbolos da Ilha. Eu queria mergulhar ali porque era lindo. Ao preparar o snorkel, de fora da água, vimos uma tartaruga boiando para respirar. Corremos, achando que ela iria a algum lugar. Que nada, ficou ali, do nosso lado, a cerca de dois metros da areia, bicando as algas da pedra. Ali estava também outra tartaruga, maiorzinha. E logo vimos mais duas arraias e muitos outros peixes interessantes, como o estranho peixe cofre. Nas árvores à beira da praia, muitos ninhos de aves marinhas, como as viuvinhas e noivinhas.






Foto: Baía dos Porcos.
Quando a maré subiu, caminhamos até a próxima praia, do Sancho, também lindíssima, cujo acesso se dá por uma escada de ferro, como as de incêndio, em uma fenda na rocha e depois, alguns metros de escadaria irregular. Subimos e caminhamos por uma trilha de 150 metros até a bela vista da Baía dos Golfinhos. A Ilha tem uma vegetação seca (fazia tempo que não chovia descentemente) e uma fauna bem restrita, formada por pássaros como uma espécie de pomba com pezinhos vermelhos, que caminha entre as árvores, lagartos e uns mini-lagartinhos chamados mambuias e preazinhos chamados mocó. Não há cobras por lá.

Foto: Praia do Sancho.
Depois deste dia, descobrímos que onde quer que mergulhássemos, de cilindro ou não, haveria muita vida. Encontramos muitas tartarugas, arraias, tubarões, polvo, lagostas, linguados, enguias e centenas de espécies de peixes. Na praia do Sueste é possível nadar em meio a pelo menos uma dúzia de tartarugas de vários tamanhos. Todas as praias são povoadas por lindos linguados coloridos. Acho que nunca mais vou conseguir comer um polvo ou um linguado. No entanto, na praia do Leão, fizemos um divertido mergulho de snorkel em meio a um gigantesco cardume de sardinhas, e eu me senti mais solidária aos atobás que também mergulhavam conosco, pescando as sardinhas. Alguns peixes me parecem mesmo com comida.
E os golfinhos? De vez em quando eu olhava para o mar, e lá, ao longe, estava um grupo passando, saltando. Chegamos bem perto deles em um passeio de barco, mas ainda não realizei o sonho de encontrá-los embaixo da água.
As estrelas da viagem, para mim, foram as tartarugas, por ter tido tantas chances de estar bem próxima delas. Ainda tivemos o privilégio de fazer um “passeio” que consistia em passar a noite na Praia do Leão com um biólogo do Projeto Tamar, com o objetivo assistir à desova das tartarugas verdes gigantes. INCRÍVEL!
Chegamos na praia às nove horas de uma noite de lua cheia e já pudemos ver os rastros de duas tartarugas que haviam subido para desovar. Não dá para descrever aqui o sentimento de presenciar todo o processo desse ser imenso (as duas tinham 1,05m e 1,10m) e dócil. Acompanhar a sua aventura ao sair do mar, subir muitos metros até as dunas, arrastando seus cerca de 250 quilos (que na água flutuam), cavar por horas, com suas nadadeiras macias, em uma respiração profunda, olhando para nós, com os olhos mais doces e, depois de horas de esforço, arrastar-se de volta para a água, onde vai atravessar o mundo, nesse oceano infinito. Após a desova, pudemos deitar ao seu lado e tocá-la com cuidado.


Passamos a noite em uma cabana (a única da Ilha que fica na praia) e pela manhã, além da linda vista da praia, fomos presenteados com a visão de um ninho que havia aberto durante a noite e testemunhamos as novas tartaruguinhas partindo para sua jornada pelo mar. Apenas uma em mil sobrevivem até a idade adulta e, não importa o quanto viagem pelo mundo, depois de muitos anos e quilos, elas voltarão para desovar na praia em que nasceram.
Fizemos muitas caminhadas, mergulhos, conhecemos muita pessoas legais, mas sobretudo, estivemos mais perto dos outros seres da natureza do que nunca, e pudemos olhar em seus olhos, nadar lado a lado e entender que o paraíso não é paraíso porque é lindo e sim porque é cheio de vida...
em paz.

Desejo do dia: raciocínio.

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