quinta-feira, maio 18

Sobrou

"Depende de nós
Se esse mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá." (Ivan lins/Vítor Martins)

Nasci anos 70 e cresci nos anos 80. Desde então o Brasil está em crise. Já deveria estar antes, mas até então, meu mundo não existia.

A realidade que eu conheço hoje nasceu comigo e cresceu nos anos 80, certamente. A ecologia, a paz e os direitos humanos eram os temas das nossas musiquinhas. Sabia que eu tinha o direito a uma educação que eu não tinha, a uma saúde que eu não tinha e que meus pais tinham direito a uma economia que não tinham. O dinheiro nunca valia nada, os adultos ficavam nervosos, o governo não funcionava.

Não digo nem pela saúde e educação, pois as crises anteriores geraram pais criativos, mas havia poucos modelos de brinquedos. Quando um modelo era lançado, todos queriam ter. Eram poucos os parques e hoje parece que são até menos. O governo ainda não funciona, mas pelo menos os brinquedos atuais são ótimos.

Eu fui criança na época mais difícil para ser criança, dizem. Fui adolescente quando os jovens "não tinham perspectivas", quando as drogas e a criminalidade explodiram. Entrei na idade economicamente ativa na época em que se diz que não há mais empregos e ainda assim tenho vencido. E agora, que estou empenhada na construção do futuro, as notícias dão conta de que a Terra não vai ter muito disso.

Sou eu ou a sociedade que está virada? Pior, sempre aparece um animado para colocar em nós, os perdidinhos da década de 80, a responsabilidade pelas mudanças. Esqueceram que não deram à maioria de nós educação, nem saúde, nem tranquilidade, nem cidadania, nem brinquedos. Fácil isso de passar a conta para as gerações futuras.

Essa sociedade, criando gerações em clima de depressão, vai ter que catar os heróis no acaso, como a natureza o faz em suas peripécias evolutivas.

Enfrentamos as dificuldades com boa intenção, como nos ensinaram nas musiquinhas, só para descobrir que ainda temos que construir o que não estava ali.

Tá bom, tá bom. Vou fazer esse esforço, mas da próxima vez, já quero nascer num futuro melhor.

Desejo do dia: bom, na verdade eu sou muuuuuuuito mais otimista e feliz com a minha infância do que isso. Desejo que meu trabalho continue dando certo.

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