terça-feira, junho 21

O relógio tá de mal comigo....

Ontem completamos dez anos juntos!!! Oito de namoro, um de noivado e um de casório. Sim, começou numa festa junina! Por isso estou romântica e vou indicar uma musiquinha para o meu amado "espouso": Adriana Calcanhoto, cantando os "menestréis" da periferia, Claudinho e Buchecha: "Fico assim sem você". http://radio.terra.com.br/busca/musicas.php?musica=Fico%20Assim%20Sem%20Você

Ele está em Xangai, que fica naquele país censurador de blogs e não deverá ver esse recado no final-de-semana, até que chegue na terra do consumo e da liberdade: minha querida Hong Kong.

E hoje é dia de São João e do Seu Juan, meu pai, ourives (o profissional que faz jóias), artista, marceneiro, místico, numerólogo, mestre, professor de ourivesaria, surfista de Internet, pai-para-toda-obra, entre outras coisas, que eu amo e admiro muito e de quem tenho grande orgulho. Parabéns!!!!!

Desejo: que o meu pai pare de fumar.

segunda-feira, junho 20

Quase!

A Câmara de Vereadores aprovou um projeto para subsidiar as passagens, mas o Prefeito mandou dizer que não vai assinar!!!

"A Insustentável Leveza do Ser" foi um desses livros que li anotando. Dentre muitas passagens sobre romance e sobre guerra, chamou minha atenção a seguinte:

"Aqueles que pensam que os regimes comunistas da Europa Central são obra exclusiva de criminosos deixam na sombra uma verdade fundamental: os regimes criminosos não foram feitos por criminosos, mas por entusiastas convecidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando para isso, centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia e que, portanto, os entusiastas eram assassinos." (Milan Kundera)

A luta dos estudantes pelo passe livre é justa se considerarmos que foi uma promessa de campanha do Prefeito eleito. Eles estão lutando pelos seus direitos, pelo que acreditam. De fato, somente as pessoas que encontram a manifestação nos momentos de descontrole, como encontrei duas vezes, ficam com medo. O saldo são algumas vitrines quebradas, telefones, lixeiras e calçadas, alguns presos e feridos. Mas não é possível mesmo saber o que está acontecendo, quem está quebrando, o que pensa, nem o que isso tem a ver com as reivindicações e com os estudantes. Não dá para saber quem está "certo". É preciso confiar desconfiando.

Na política, infelizmente tenho aprendido que é assim. É preciso sobretudo, desconfiar das notícias, das denúncias, até das fotos.

Quem trabalha no poder público geralmente pertence a um partido e, mesmo quando um outro ganha a eleição, alguns funcionários fazem de tudo para "queimar o filme" dos "inimigos". Por exemplo: pessoas ligadas à área da saúde podem não repassar remédios para os postos de saúde só para que a comunidade reclame da administração, ainda que isso prejudique as pessoas que nada têm a ver com a disputa. Isso pode acontecer até mesmo dentro do mesmo partido, se tiver alguém querendo um lugar que é de outro. Há SEMPRE um interesse político e é muito difícil para aqueles que têm boa intenção, desenvolver um bom trabalho.

Parece que tudo no País (e eu me pergunto se não é assim no mundo) está relacionado ao interesse de grupos políticos, ligados a grupos econômicos ou sociais e famílias diversas, até nas menores instâncias como grêmios acadêmicos e associações de bairro. Mas nem sempre se trata de uma política sadia e participativa, há interesses não revelados fazendo do povo massa de manobra. Ouvimos as notícias, as fofocas, apoiamos algum lado, sem nunca saber realmente o que se passa.

Quanto mais eu tento entender, ir atrás, mais eu descubro como é tudo um grande jogo de interesses, em grande parte, transitanto nos limites da decência, mas difícil de ser denunciado, afinal, está muito bem amarrado.

Precisamos de uma melhor educação para a política, que nos ensine a pensar realmente coletivamente. Assim, quando precisarmos de algo, não vamos mais procurar "aquele político nosso amigo". Falta transparência, objetividade administrativa, falta solidariedade... acho que vou me manifestar também!

Como?

Desejo do dia: cobertor!!! Tá muuuuuuuito frio!

quinta-feira, junho 16

Fusuê III, em ritmo de funk: "Ah, eles estão descontrolados!!!"


"Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem." (Bertold Brecht)

Estava no Centro, lá pelas 8:00 h da noite, conversando na frente do prédio da Associação, quando ouvi uma explosão próxima que pensei que fossem fogos de artifício. Dali à pouco, mais uma. Até que vimos o pessoal correndo. Eram os manifestantes. "De novo?", pensei. Alguém avisou: "A coisa tá pegando fogo. A polícia está atirando e soltando bombas".

Bombas? Nem sabia que ainda havia manifestação! Mas lá vinham correndo os jovens com camisetas de protesto enroladas na cabeça, alguns usando máscara de proteção, dessas que dentistas e médicos usam. Um caos! Corri para pegar o carro e sair dali o mais rápido possível. Ao lado do meu carro, vi quando um estudante largou no chão um desses pedaços de paralelepípedo, do tipo que formam as calçadas de Ipanema e as daqui de Floripa também.

"Tão quebrando tudo, tudo, tudo." Avisou o rapaz do estacionamento. "Vieram destruindo desde lá de baixo, quebraram até o Banco do Brasil, de novo." A essas alturas, eu já podia ver os guardas correndo, vindo de todos os lados. Na frente do Banco de Brasil, passava um batalhão de choque... Logistas apressavam-se em fechar as lojas que ainda estavam abertas.

Fui para casa e pude acompanhar, mais tarde, cenas terríveis pela TV. As piores desde que o movimento começou. Foram quebrados orelhões diversos, lixeiras (que aqui são bem bonitinhas), lojas, calçadas. Imagens de carros dando a volta desesperadamente, como fiz outro dia, confrontos, um cinegrafista que ganhou uma pedrada e estava com a cabeça sangrando muito...

Ainda havia cerca de mil pessoas nas manifestções, segundo o reporter e o movimento espera mais para amanhã.

E o Bruninho lá na China... nem pode ver minha homenagem ainda, pois a Internet lá é censurada, e o meu blog, que tem palavras proibidas como "Taiwan", não abre de jeito nenhum.

Desejo do dia: quero a minha mãe!

segunda-feira, junho 13

Em tempo

"Enchei a taça um do outro
Mas não bebais da mesma taça
Dai de vosso pão ao outro
mas não comais o mesmo pedaço
Cantai e dançai juntos e sede alegres
mas deixai cada um de vos estar sozinho
Assim como as cordas da lira são separadas
e no entanto, vibram na mesma harmonia
(...)
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia
pois as colunas do templo erguem-se separadamente
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro"
(Gibram)

Bru, você me faz querer ser uma pessoa melhor, quando me ama e me respeita exatamente como eu sou. Obrigada por tudo!

Desejo do dia: Feliz dia dos namorados, aí do outro lado do mundo!!!

quinta-feira, junho 9

Fusuê II


Jovem pintando colega diante da Catedral. (
Mais fotos)

Para entender melhor o movimento, hoje, no nono dia de manifestação, resolvi dar uma olhada. Encontrei uma porção de jovens animados, representantes de outros movimentos sociais e lideranças diversas de esquerda.

Assim como os jovens pareciam tranqüilos e centrados, também pareciam os policiais.

Alguns jovens que haviam sido presos nas primeiras manifestações estavam lá, bem como a menina que ouvi a mãe contar, ontem, que havia feito uma música na cadeia.

E já que haviam sido presos por formação de quadrilha, os jovens resolveram fazer uma quadrilha de festa junina e cantar:

"Pula a catraca Ia, Ia,
Pula a catraca Iô, Iô,
Cuidado para não apanhar,
Pois a polícia já bateu no meu amor"

Aproveitei para tirar fotos para o Blog.

Fiquei numa reunião até 21:30, quando saí, resolvi dar uma olhada para ver como estava a manifestação. Quando passei na frente da Rodoviária, gelei. Uma turbe veio na minha direção e dos outros carros, correndo, gritando, jogando cones. Subi com o carro no canteiro para fazer o retorno, primeiramente com receio de estar fazendo algo errado, depois, escoltada por um policial numa moto. Carros e ônibus que estavam sendo atacados bateram em retirada, auxiliados pela polícia.

Corri para casa e ainda tive tempo de fotografar as cenas do local onde eu estivera, ao vivo, na tela da TV a Cabo (Canal Local).

Como as passagens para as praias estão custando R$3,00, algumas pessoas terão que gastar R$130,00 de ônibus por mês. Ganhando um salário mínimo? Realmente estamos vivendo uma crise de legitimidade dos poderes executivo e judiciário no País e os jovens não acreditam mais que os políticos, como a Câmara de Vereadores, vai ajudá-los a resolver o problema.

Mas sinto que o movimento está ficando mais controlado, mais irônico. Dizem que a multidão gritava para ninguém quebrar nada desta vez. Não vi abusos dos policiais. Acho que estão todos aprendendo.

Amanhã alguns dos estudantes que foram presos farão parte de um chat no Clic RBS (www.clicrbs.com.br), site onde também podem ser encontradas fotos e o mural com respostas para a pergunta: "Você é contra ou a favor da manifestação?", aqui.

Desejo do dia: decisões acertadas.

quarta-feira, junho 8

Fusuê


Panfleto que está sendo distribuído pela cidade.

No começo da noite de hoje, fui comprar um calzone e encontrei ao lado do caixa, o singelo bilhetinho acima. Perguntei se o problema já não havia sido resolvido e disseram que não, que naquele exato momento estavam ocorrendo as manifestações. Mais tarde, na Universidade Federal, pude ver também os cartazes que diziam ainda algo como "organize a mobilização no seu bairro, amanhã não pague passagem". O povo está mesmo empenhado.

Como quem está de fora, vejo todo tipo de opinião: estudantes animados com a possibilidade da vitória; amigos preocupados com a segurança dos filhos; uma outra com a tia que estava nervosa num num ônibus que quase foi virado pela multidão; uma mulher que teve a filha presa, ouvi de relance, enquanto ela comentava que a menina havia escrito uma canção na cadeia, depois de sonhar que estava apanhando dos policiais; um médico que atendeu policiais feridos; um jovem que denuncia a truculência dos policiais, das prisões e balas de borracha, e ataca as decisões que o governo tem tomado na tentativa de resolver a questão.

Trabalhei muito esses dias e felizmente não tenho dado de de cara os horários das manifestações. Todo dia, por volta das 18:00 h, o pessoal começa a ligar para perguntar como estão as coisas nas proximidades dos terminais. Antes de ontem, parece que houve paralização à tarde e os ônibus voltaram a circular às 18:30 h, quer dizer, os que conseguiram, pois muitos estavam com pneus furados. Encontrei um desses no caminho, no meio da pista, completamente arriado.

E ai de quem vier me dizer que tenho que ter maior consciência social e me envolver mais nessa questão. Tenho trabalhado arduamente na Prefeitura de São José, planejando e buscando recursos para desenvolver projetos de saúde, fora os projetos desenvolvidos pela ONG. Eu sei que há muitos problemas graves acontecendo, mas cada um de nós encontra a sua maneira de tornar esse mundo mais justo. Cada qual com as suas habilidades, a minha é o planejamento.

Já discuti muito com um colega do curso de Direito que dizia que a saída para a nossa sociedade era uma revolução armada dos trabalhadores. Admiro muito as lideranças jovens, conscientes. No entanto, é difícil detectar a diferença entre os ativistas conscientes e a massa de manobra. É triste descobrir que por trás de muita coisa que parece justa estão as velhas raposas astutas da política - algumas delas bem jovens.

De qualquer forma, se tiver um tempinho, vou tentar dar uma espiada na manifestação.

Ah, TICEN é Terminal Integrado do Centro.

Desejo do dia: a famosa boa noite de sono.

sábado, junho 4

Movimentos Sociais - dia de reflexão


Foto do Jornal Diário Catarinense. "À noite, os manifestantes são impedidos de bloquear a Ponte Colombo Salles(...)" Foto(s): Julio Cavalheiro/DC.

Tudo calmo no caminho da Universidade, mas, durante a noite, ainda rolaram telefonemas de pessoas preocupadas avisando amigos e familiares que havia confusão no Centro e é isso que torna o clima tenso. Na verdade, parece que houve apenas uma grande manifestão, novamente pela Beira-Mar, de duas horas, parando o trânsito, mas tranqüila. Ao contrário da noite anterior, quando o movimento perdeu o controle dos participantes.

Parece que o movimento encontrou o rumo novamente. Durante a aula, o professor comentou sobre as manifestações que fez na juventude, como líder estudantil, incluindo uma greve de fome (falsa!). Mas estava preocupado pois essas manifestações não atingiam pessoas que nada tinham a ver com ela. Um certo confronto com a polícia é previsível, mas o ataque aos carros, aos prédios, às pessoas, o vandalismo, desmoralizam os movimentos sociais. Fala-se que outros grupos aleatórios ao movimento dos estudantes entraram na confusão e aproveitaram para promover a quebradeira e que os próprios líderes do movimento estavam preocupados e não conseguiram impedí-los.

Se perguntássemos a alguns dos jovens envolvidos, talvez eles não soubessem explicar bem os motivos do protesto. Havia até um movimento punk promovendo o quebra-quebra, dizem. Estes subiram no carro de som, tiraram os líderes que estavam procurando acalmar a turbe e incitaram o vandalismo.

Por outro lado, o professor, que trabalha na Prefeitura, disse que ouviu: "Se a Ana Paula Padrão reclama ganhando 80.000, então a gente tem que quebrar tudo", ou algo assim, de uma lógica incompreensível.

De fato, todos temos culpa do abuso das empresas de ônibus, acertadas com os políticos que insistimos em eleger, dentre outras culpas. Os jovens sempre estão dispostos a tentar mudar aquilo que vêem de errado. Precisam de boa orientação.

Hoje, numa manifestação pacífica, Hong Kong lembrou o aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial, em Beijing. É difícil definir certo e errado, mas é um bom momento para reflexão.

Desejo do dia: que uma pessoa de quem eu gosto muito possa superar uma fase difícil, de separação.

sexta-feira, junho 3

Descontrole

Estou agora me perguntando se devo ir para a aula de carro. Ouço daqui as sirenes. Não dá para saber o que está acontecendo. As pessoas se telefonam, avisam: "É melhor não sair agora!". Todos se perguntam: "Estais sabendo de alguma coisa?". "Estão prometendo algo grande para hoje". "Estão vindo ônibus de outras lugares para cá", de Porto Alegre e Curitiba, estão dizendo, para ajudar nas manifestações. O fato é que na noite passada, perdeu-se o controle. Hoje vi alguns vidros e calçadas quebradas no Centro. Dizem que as lajotas das calçadas foram arrancadas para serem atiradas nos vidros. O quebra-quebra atingiu uma sede do Banco do Brasil e o prédio antigo da Câmara de Vereadores.

Diante disto, hoje, as pessoas estavam sendo liberadas da Prefeitura mais cedo.

A semana tem sido assim, tensão na hora de sair de casa ou do trabalho, trechos desviados em função da movimentação das manifestações, incerteza.

Hoje, dizem, a "coisa vai ser grande". Há muitos grupos de policias em alerta pela cidade. Na cabeceira das pontes que ligam a cidade ao continente, a polícia montou um QG, com tendas verdes, caminhões e, dizem, até um tanque. Este eu não vi.

"Os organizadores do movimento tentaram fazer com que os manifestantes seguissem pacificamente em passeata pelo centro, mas muitos se recusaram e invadiram o terminal urbano, depredando ônibus e instalações."

"A situação ficou fora de controle, houve quebra-quebra no terminal Cidade de Florianópolis (de onde partem as linhas intermunicipais urbanas) e na praça 15 de Novembro. O antigo prédio da Câmara de Vereadores, patrimônio histórico, foi apedrejado e houve um princípio de incêndio no interior do prédio, contido a tempo. A polícia passou a perseguir os estudantes ao longo de várias ruas do centro. Por volta das 21 horas, a PM já havia ocupado a praça 15. Um grupo mais reduzido de manifestantes voltou a concentrar-se em frente ao Ticen. "Perdemos o controle, há vários grupos agindo de forma autônoma e depredando a cidade", admitiu o presidente da União Catarinense dos Estudantes, Tiago Andrino." (AN)

Balas de borracha, bombas de gás, depredação. Numa cidade não muito grande como Florianópolis, o confronto entre policiais e estudantes é quase de família. Aqui, pode-se confiar na polícia, mas eles estão irritados, percebe-se. Os menos preparados já perderam o controle, serão punidos. Algumas pessoas estão muito irritadas por terem suas vidas e caminhos alterados. Também pelos carros apedrejados.

O Prefeito desafiou, dizendo que, com ele na Prefeitura, ninguém fecha a ponte. Eu, se fosse estudante, só de birra, encontraria um meio de fechá-la.

Vejam que não estou tratando do valor ou não do tema das manifestações: o aumento da tarifa do ônibus urbano, uma das mais caras do país (mínima 1,75 reais) num monopólio do sistema de transporte que há anos domina a cidade e consegue acordos vantajosos com os governos, por um serviço que não merece.

É só uma questão de descontrole. De alguns estudantes, de alguns policias, do sistema de negociação das concessões.

Ainda não sabemos como discutir e resolver determinadas questões em nossa sociedade. Em qualquer País, por qualquer motivo, ainda temos as grandes manifestações, dos que desejam lutar pelos direitos e dos que se aproveitam disso para liberar seu lado agressivo. Mais que tudo, ainda não sabemos votar.

Vou para a aula. Se não der para passar, eu volto.

Desejo do dia: segurança.