sexta-feira, novembro 5

"Eu sou da América do Sul...

... eu sei vocês não vão saber." (Para Lennon e Macartney, Milton Nascimento)

Esta semana tem Latinoamerica Festival em Hong Kong, promovido por alguns consulados do nosso continente, inclusive o do Brasil. Vão ser muitas festas, salsa, samba, churrasco, futebol e mostras de arte e cinema.

Mesmo com tantas caricaturas, tenho orgulho da nossa cultura. Apesar de alguns brasileiros não demonstrarem muita identificão com os vizinhos, gosto de ser latinamericana. Gosto, ainda que os americanos, com sua mania de rótulos, tenham dado um tom pejorativo ao termo, chamando maliciosamente os seus imigrantes de latinos e “chicanos”.

A Ásia costuma se apresentar como um mosaico cultural, um lugar exótico a ser visitado. Embora cada país tenha suas características e faça sua própria propaganda, há muitas reportagens, documentários e material de marketing considerando a Ásia como um todo. Roteiros para viajantes incluem visita a vários países, que nem sempre são próximos. A América latina é tão bonita quanto, mas não faz a mesma propaganda. Também apresenta uma cultura milenar, com cidades e templos antigos, belas danças e artesanato, mas não vende tanto.

Há um pouquinho de ilusão a respeito da "exoticidade" da Ásia. Fora algumas diferenças culturais e arquitetônicas evidentes, muito do que se vê é artificial, existe para o turismo. Máscaras, artesanatos, apresentações, são produzidos em massa. Excursões são realizadas com centenas de turistas, como numa Disney cultural. É difícl alcançar o que é realmente original. Para isso, é preciso tentar roteiros alternativos e colher boas dicas. O resto é apenas o velho e belo terceiro mundo (com exceção do Japão, claro). É claro que a Ásia é interessante e bonita, que vale à pena ser visitada e que aqui se aprende muito. Mas a América Latina também é muito bonita!

É uma pena que tenhamos sido tão massacrados pelos nossos antepassados colonizadores – que fazem parte de nós, agora – a ponto de idiomas e culturas inteiras terem sido perdidos. As pessoas da Ásia ainda parecem asiáticas, mas nós, na América, nos misturamos e nos transformamos. Adquirimos muito da cultura européia e, nos últimos anos, também da norte-americana. Criamos uma nova cultura.


Na América Latina nasceram Garcia Marques, Borges, Neruda, Tom Jobim e muitos outros. Nasceu o tango, o samba, a salsa etc. Tantos talentos e manifestãoes artísticas, que torna-se difícil e injusto enumerá-los.

Diz-se que temos muitos problemas como o paternalismo, a indisciplina, a corrupção etc. Mas penso que é possível dizer que a América Latina tem uma bela identidade bruta, que (sem esquecer nossos antepassados, povos guerreiros) revela uma cultura pacífica, de muita imaginação, emoção e de ternura. Ainda é preciso entender, lapidar e fazer brilhar essa identidade.


É como se estivéssemos guardando algo especial para mostrar ao mundo.

Desejo do dia: assistir ao DVD "Tambores de Minas", de Milton Nascimento, especialmente "Nos Bailes da Vida". Um dos melhores shows que assisti na vida.

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