quarta-feira, outubro 20

Sabemos. Fazer o quê?

"É um erro confundir o desejar com o querer. O desejo mede obstáculos, a vontade vence-os." Alexandre Herculano

Ano que vem voltamos para o Brasil, aquele país da América Latina, dominado pela corrupção e pelo tráfico de drogas, com generais bigodudos enfeitados de medalhas e políticos de terno branco. “Qual deles?”, perguntaria algum distraído. “Aquele do Ronaldo” eu completaria. “Ah, já sei.” seria a reposta, ao som daquela rumba que os filmes americanos colocam quando mostram o Brasil.

Reclamamos dessa imagem de país pobre e dominado por alguma guerrilha, mas não fazemos por merecer outra. Mesmo numa cidade não muito grande como Florianópolis, o tráfico domina os morros, a polícia sabe quem são os bandidos e sabemos que a polícia sabe. Sabemos que todo mundo sabe quem são as famílias ricas que comandam o tráfico e sabemos quem são os políticos dessas famílias e continuamos votando. E sabemos que a imprensa também sabe. O que não sabemos é o que fazer. Ou até sabemos, mas não ligamos tanto assim.

Sabemos que nos bairros vizinhos as famílias passam fome e todo tipo de necessidade, que morrem por falta de atendimento nos hospitais, mas fingimos que o problema é só deles.


Sabemos que as crianças, além de comida, precisam de roupas, de estudos, de lazer, de saúde, mas que não têm nada disso. Sabemos que os pais procuram emprego sim, mas não encontram, que muitos nem foram capacitados, como seus filhos também não vão ser.
Sabemos que a calamidade leva à depressão e ao álcool e violenta as famílias. Sabemos que as brigas se resolvem na faca e na bala.
Sabemos que essas pessoas são a clientela do sistema prisional, que sabemos que não funciona, mas fingimos que acreditamos. Pensamos que são “eles”, porque a mídia nos faz acreditar que estamos de fora, mas no fundo, sabemos que sofremos também.

E com tudo isso, sabemos que as ruas não estão seguras e que podemos sofrer com as consequências dessa situação. Só não sabemos quando.

Ainda assim, ficarei feliz de voltar para casa.

Uma vez perguntaram para o meu pai por que ele, como coordenador do Movimento Bandeirante, gastava seus finais de semana cuidando das "crianças dos outros" e ele respondeu: “_ Porque estou cuidando do mundo no qual os meus filhos vão viver!” (Te amo, pai).

Digo isso porque estou cada dia mais chocada com as notícias que recebo da Guerra do Tráfico no Rio de Janeiro. E no País.

Desejo do dia: luz.

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