terça-feira, dezembro 28

Estamos bem

Ola!

Nossos amigos estao preocupados, mas apenas hoje vimos as noticias de que houve um desastre por aqui. Estamos em Malapascua, nas Filipinas, uma pequena Ilha onde as pessoas vao para mergulhar e por aqui esta tudo bem. Ouvimos dizer que ouve um terremoto, mas nao sabiamos que havia sido tao horrivel. Esta manha, uma pessoa olhou a borrachinha da minha mascara de mergulho de Phi Phi, na Tailandia e comentou: voce esteve la? Nao sobrou nada! Fiquei espantada. Ai comecamos a saber que havia sido um grande desastre. Fiquei horrorizada... aquela ilha tao bonita, as pessoas que conhecemos ha pouco tempo, o nosso dive master e tudo o mais... tudo se foi? Acabamos de assistir as imagens na CNN. Estamos chocados! Mas estamos bem. Ligamos imediatamente para avisar nossos pais e procurei a unica Internet da Ilha para escrever.

A noite esta linda, lua cheia e estrelas. Beijos, Lili.

sábado, dezembro 25

Até mais


Antes de voltarmos para o Brasil, no dia 20 de janeiro, vamos fazer uma viagem por aqui. Voltaremos no dia 03. Acho que não vai dar para postar nada enquanto isso.

Obrigada a todos que comentaram e mandaram e-mails desejando-nos um feliz Natal. A festa foi ótima, com mais 20 amigos. Realmente não tive tempo de mandar mensagens para todos, mas retribuo de coração.

Esse tempo... tenho certeza de que ele não existe, mas mesmo assim ele me assombra.

Ainda tem muitas coisas que eu quero fazer.
Eu quero voltar para Uluwatu, em Bali
E quero fazer uma caminhada à noite na Chapada Diamantina.
Eu quero comer um paozinho gostoso na Itália
E comprar um Buda no Camboja.
Quero encontrar meus ancestrais, na Espanha, no Marrocos, nos Andes...
E me sentir estranha numa pequena ilha do pacífico.
Eu quero admirar a luz de um passeio pelo Nilo
E quero me perder um pouquinho num mercado de Stambul.
Quero assistir a um por-do-sol na savana,
Me esticar na grama e contemplar as montanhas da Nova Zelândia.
Quero sentir frio, a beira do mar na Cornualha
E rir dos pinguins na Patagônia.
Quero ver jovens numa praia da Grécia
E subir as escadas de um templo maia.
Não necessariamente nessa mesma ordem.
Ainda quero ter muitas outras experiências e viagens,
Depois, deitar e descansar.

Desejo do dia: Boa viagem!

quarta-feira, dezembro 22

Feliz Natal!


Família em Belém, Oriente Médio, 2004. (Fonte)

O presépio, um dos símbolos do Natal é a representação de um momento sagrado na cidade de Belém. Só que as noites naquela cidade não têm sido assim tão felizes. Belém é uma das cidades ajudadas pela organização na qual eu sou voluntária, a Crossroads. Os colegas que estiveram lá trouxeram fotos das pessoas e de locais destruídos pelas bombas. Lá, tiros e explosões podem ser ouvidos freqüentemente durante o dia e à noite, as pessoas sofrem incertezas e privações diversas, de mantimentos, de bens, da liberdade. (O relato me lembrou um pouquinho a situação dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, mas fiquei quietinha.)

“A continuidade da ocupação israelense no entorno de Belém impedirá a livre circulação de palestinos da cidade natal de Cristo no restante da Cisjordânia. Também serão reforçados os bloqueios no acesso a Jerusalém” (Fonte)

Diante disso, é fácil pensar que os outros que estão errados e que há muita violência no mundo. Posso então pensar que eu até que sou legalzinha. Mas no fundo sei que o mundo reflete um ódio que às vezes eu também tenho, mesmo que me doa admitir. Admitir que sei como fazer as pessoas sofrerem, que sinto mágoa, desejo de vingança, ressentimento, inveja, intolerância, um pouco de culpa e egoísmo. Tudo aqui guardadinho num canto, para que Papai Noel não veja e assim me traga lindos presentes...

Algumas pessoas podem a passar a vida rejeitando sentimentos naturais, sem aprender a lidar com eles, acumulando incertezas, depressão e patologias diversas. Afinal, é preciso ser um cidadão honesto e virtuoso, ao contrário daqueles bandidos que se encontram nas cadeias, dos políticos corruptos, dos terroristas e assassinos em geral.

E no meio dessa loucura, quem está realmente nos ensinando a conviver?

O que eu desejo a todos neste Natal e nessa virada de ano é que cada um de nós possa encontrar a sua paz, o seu caminho, guiado pelo Deus que está em nossos corações e em todas as coisas. Feliz Natal e feliz Ano Novo, amigos!

"Jesus não veio de além do horizonte azul para fazer da dor o símbolo da vida, mas para fazer da vida o símbolo da verdade e da liberdade. (...)
Jesus não desceu do mundo da luz para destruir as nossas casas e, com suas pedras, construir conventos e eremitérios. (...)
Jesus não veio ensinar aos homens a erguer igrejas suntuosas ao lado de casebres miseráveis e de habitações frias e escuras, mas veio para fazer do coração do homem um templo, e de sua alma um altar, e de sua mente um sacerdote." (Gibran)


terça-feira, dezembro 21

Adendo ao amigo secreto


Para quem quiser ver a bela homenagem que ganhei do meu amigo secreto, está aqui.

Não tive tempo de ler todo o blog da amiga que tirei, mas estava tentando terminar agora e encontrei essa passagem. Preciso colocar aqui, porque fiquei admirada com a sua força de vontade. Todos nós temos esforços e conquistas, mas às vezes não paramos para apreciá-las. Por isso gosto de uma frase que diz: "Senhor, vós, que tanto já nos destes, dai-nos uma coisa mais: um coração agradecido". (George Herbert)

"No ano de 2003 arrumei um emprego que tinha um salário razoavelmente decente, meus primeiros salários foram para comprar um computador, depois comecei a juntar dinheiro para construir a casa da minha mãe, mudei de emprego o salário baixou e depois subiu, consegui comprar um carro usado, e agora acabamos de nos mudar para os cômodos novos, inauguramos 2 quartos a cozinha e o banheiro, faltam ainda o quarto do meu irmão e a sala. Mas tbm falta a minha casa, e aí lá se vem mais sala, mais cozinha, mais banheiro, fico me perguntando qdo vou acabar... Mas hoje estou aqui para demonstrar minha satisfação, poderia ter pego meu dinheiro e ido viajar ou ter gasto com todas as roupas e sapatos que sonho ter....poderia ter usado para me divertir, ou poderia estar guardando para o futuro..... Mas como é bom ver a satisfação de minha mãe numa casa que tem piso....que tem parede.... num banheiro que tem pia e chuveiro elétrico.....como é bom olhar para a parede e não ver o lado de fora....Meu Deus, que privilégio vc está me dando...está me dando uma oportunidade única, estou conseguindo realizar s sonhos da minha mãe e consecutivamente os meus....pelo menos alguns, porque como disse meu irmão ontem: Nunca vi alguem ter tantos sonhos...eu adoro sonhar e falta tanta coisa.... Mas num país como o Brasil com tanta desigualdade social, com fome e desemprego, com tanta ignorância....me orgulho de ser filha de uma mãe que trabalhou na roça, ser filha de um pai ignorante e inconsequente que largou a familia na rua da amargura, ser do interior no Mato Grosso do Sul, de ter vindo parar no Acre sem dinheiro para comprar margarina e shampoo, de não ter tido uniforme e nem livros pra ir para o colégio, e estar onde estou...eu estou dirigindo meu proprio carro....quem diria...estou escrevendo no meu computador e daqui a pouco vou estudar para a minha monografia....para alguns isto é muito pouco...mas para mim isto é uma grandíssima vitória. (...) " (Minerva)

segunda-feira, dezembro 20

Amigo secreto


Mais uma árvore dos desejos que encontrei por aí.
Quando vi o nome da minha amiga secreta, lembrei dela.

Depois que criei esse blog, conheci muitas pessoas interessantes, virtualmente. Tenho sido espantosamente extrovertida por aqui, mas a verdade é que eu sou, como diriam os astrólogos, um caranguejo na minha casca, assustada com aquela frase do Millor: "Quão maravilhosas as pessoas que não conhecemos bem". Por isso, penso que sou algum tipo de amiga sempre secreta ou simplesmente estranha.

Eu acho que não participaria de um encontro de blogueiros, sou muito encabulada para essas coisas (reais), mas participei de um amigo secreto, (virtual). A idéia é fazer uma homenagem, hoje, para os nossos amigos secretos.


Não sei muito sobre a menina que tirei, mas ela escreve com sinceridade a respeito de suas angústias, estranhamente muito parecidas com as minhas. O que me faz pensar que, apesar de todo nosso esforço, nós humanos somos desconcertantemente parecidos.

Minha homenagem é um texto de Victor Hugo que fala sobre desejos (o mais sincero que conheço) e que inspirou uma música dos Titãs, para essa menina que se tem o apelido de
Minerva e cujo nome, não sei se posso revelar.

"Desejo primeiro que você ame, e que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis e que pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, que essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer e que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga 'isso é meu', só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, tenha uma boa mulher e que sendo mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes. E quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a lhe desejar ". (Victor Hugo)

Desejo do dia: este mesmo.


sexta-feira, dezembro 17

Mamãe, eu vou para a Califórnia


No site que fiz sobre Hong Kong, as pessoas costumam perguntar como fazer para morar fora. É claro que, se você tem dinheiro, pode ir na boa, é só buscar um curso e se matricular. Mas, para os menos abonados, existem outras opções, como obter bolsas de estudos ou conseguir um emprego que o leve para fora.

Em Floripa, boa parte das pessoas que eu conheço já passaram um tempo no exterior. Há um certo costume das famílias de economizarem para colocar os filhos em programas de intercâmbio. E há também uma cultura dos professores da Universidade Federal de Santa Catarina, de fazerem alianças com outras universidades para Doutorados sanduíche e estágios, o que facilita bastante a busca do estudante.

Fiz uma pesquisa sobre o assunto e vou colocar aqui, rapidamente, o que encontrei.


Programas de intercâmbio

Normalmente pagos, valem muito à pena. Além de contrubuir para a proficiência em uma nova língua, morar fora do país é um bom meio para desenvolver a capacidade de comunicação e abrir os horizontes. É certo que não é só isso que faz a diferença no âmbito profissional, mas ajudou muito para diversas pessoas que conheço e que não estariam aqui em HK, por exemplo, se não fosse por isso. Para quem quer fazer intercâmbio, ajuda participar de instituições como clubes Rotary e CISV.


Bolsas de estudo

Durante o seu curso universitário. Você pode procurar fazer um intercâmbio com uma outra universidade no exterior, estudando alguns meses lá. Ajuda muito se você tiver algum projeto de pesquisa. Nesse caso você pode procurar o site da universidade almejada e verificar se ela disponibiliza esse tipo de intercâmbio. Também existem alguns programas internacionais de estágios, como o do Banco interamericano de Desenvolvimento (BID): link. Há também um programa especial para afrodescentenes e indígenas: link.

Mestrado e doutorado. São as bolsas mais tradicionais e mais ofertadas. Você pode escolher uma área de estudo e procurar alguma universidade que esteja desenvolvendo um programa de pesquisa na área ou simplesmente escolher o curso desejado e fazer um pedido de inscrição. Com a carta de aceitação, já pode procurar uma bolsa que pague as despesas do curso. Algumas pagam apenas parte, outras até a passagem. A bolsa pode ser da própria universidade ou de alguma instituição ou governo. Entre no link a seguir e veja que são muitas as possibilidades: http://www.dce.mre.gov.br . Procure por “Cursos para brasileiros”, existem programas em “entidades internacionais” e “governos e instituições”. É o melhor site que eu conheço sobre o assunto e tem sido atualizado constantemente. Normalmente esse passo exige que você tenha conhecimento do idioma do país. Um dos programas é o Alban, para quem quer estudar na União Européia.

Cursos prontos. Nos quais
você tem que preencher determinadas características, como experiência na área, para se cadidatar às vagas. Uma vez, indiquei um desses para um amigo nosso. Ele não sabia falar inglês direito, mas se esforçou, conseguiu cartas de recomendação, foi passando de etapa em etapa e acabou indo passar seis meses na Alemanha, estudando energia eólica (cataventos gigantes). Ex: Bolsas OEA diversas e cursos presenciais. A japonesa Jica, também disponibiliza esse tipo de curso. Conheço várias pessoas que já foram passar alguns meses no Japão estudando assuntos determinados.


Trabalho

Existem aqueles programas de trabalho em estações de esqui, navios e afins, mas esses eu não conheço bem. Penso que quem realmente quer trabalhar fora deve procurar desde cedo, trabalhar em alguma empresa que tenha o costume de mandar seus empregados para o exterior, como o HSBC ou a Embraer, por exemplo. Ou em algum órgão do governo como o Itamarati. Bom, são muitas as profissões que podem levar você para trabalhar no exterior, como a do Zeca Camargo, por exemplo. Mas não é nada fácil chegar lá. Aqui em HK, a maior parte dos brasileiros trabalha para empresas que compram ou vendem na China. Bom, um amigo é arquiteto, mas começou na Inglaterra e foi transferido para cá.


ONGs

Outra maneira interessante é participar de um programa de voluntário, mas a má notícia é que eles costumam cobrar. Sim, tirando algumas como a ONU, que pode pagar algumas despesas, muitas intituições que levam você e sua boa-vontade para salvar os rinocerontes da Indonésia e as florestas da Nova Zelândia, desde que você pague uma certa quantia. Pode ser bem mais interessante do que ir como turista e até mais barato, mas não costuma ser de graça. Exemplo: Global Volunteer. Outras oportunidades de voluntariado e algumas que cobrem as despesas: One World e Idealist.

O trabalho remunerado em ONGs, normalmente te leva a participar de muitos eventos fora do país, mas é preciso ter conhecimentos de outros idiomas para conseguir um. Veja algumas vagas aqui: Rits.


Ir por conta

Exige um espírito decidido e aventureiro. Quando você é jovem, trabalhar lavando pratos ou num hotel pode ser muito interessante e até vale muito à pena, mas depois de velho, eu não iria.

Existem outras maneiras, é claro. Eu não pesquisei tanto assim e procurei mais na minha área. Outras profissões devem ter seus caminhos especiais. Se você tem alguma dica ou discorda de algum ponto, pode colocar ali nos comentários.


Bom, também pode acontecer de você se casar com um(a) estrangeiro(a), sua família se mudar ou seu marido/esposa ser transferido(a), como no meu caso.

Além disso, como eu vi alguém dizer o outro dia, você também pode começar a vender os seus órgãos e ir se mudando aos pouquinhos. Tenho certeza de que existem outras idéias engraçadinhas, mas essas eu deixo para a criatividade dos meus amigos comediantes de plantão.

Desejo do dia: pizza!!!

quarta-feira, dezembro 15

Segredos de Hong Kong


Objetos expostos na Cat Street, Hong Kong.

Me perguntam porque eu digo que Hong Kong é a cidade onde todas as pessoas e objetos perdidos do mundo um dia vão parar.

Perdeu a sua capinha de celular de oncinha? O batedor de ovos? Um Snoop da sua coleção? Uma moeda? Tenho uma suspeita: veio parar em Hong Kong. Sim, junto com aquele pé de meia, que, neste momento deve estar sendo vendido por velhinhos misteriosos, em alguma calçada ou beco de Sheung Wan.


Detalhe, um outro dia, no mesmo lugar.

Nas tardes de fim-de-semana seus objetos perdidos podem ser encontrados ao longo da Hollywood Road, a rua das lojas de antiguidades, onde aqueles que foram perdidos pelas gerações passadas também se amontoam.

Pare numa esquina de Central e observe a população que passa. Entre a massa de cabelos negros e olhares orientais você notará muitas pessoas diferentes, em sua maioria jovens, de todas as fisionomias, idiomas, formas, estilos. Mudaram-se para Hong Kong? Nasceram aqui? Provavelmente não. Estão de passagem. Pela Ásia, pelos negócios, pela aventura. Essa passagem costuma durar dias para alguns, semanas e até meses para outros. Para poucos conta-se em anos. Por um momento, ao ver vikings, turbantes, sarongs, ternos, clubbers, turistas e cowboys australianos, você vai ter a impressão de que todas as pessoas abduzidas no mundo, foram deixadas aqui, entre a Queens e a De Voax Road.

Hong Kong é como um buraco negro que atrai a tudo e todos, chacoalha, transforma e depois cospe longe, em todas as direções. Todas as coisas que se perdem no processo, os velhinhos de Hong Kong coletam e vendem, com seus olhares marotos.

Desejo do dia: parabéns para o João, meu padastro muito gente-fina, que faz a minha mami feliz, que tem um sorriso largo e um grande coração. Muita saúde! Muita felicidade! Muitos anos de vida!!!


João e mami, em maio, no nosso casamento, em Floripa. (Foto de Norton José)


Paizinho e Si, no mesmo evento, que é para ninguém ficar com ciúmes.

Amo vocês.

terça-feira, dezembro 14

Um "must"

Situando: toda vez que eu digo que não gosto de alguma coisa, o Bruno vem que dizer “Essa é nova!” ou "não generalize" e eu faço cara de "nunca gostei". Aí, qualquer dia ele vem me perguntar “Ué, você não disse que não gostava disso?”. “Quem, eu? Não foi bem assim”.

Pois então, não me dou com propagandas. É como aquele mau ator que estraga um filme porque você percebe que é uma pessoa atuando. Incomoda-me perceber uma propaganda.

Não gosto de pensar que eles me analisaram por inteiro, tentaram criar algo que chamasse a minha atenção, que me provocasse um sentimento “x” e a vontade de ter determinado produto. “Veja como esse sapato é ousado”, “como essa cerveja é bem-humorada” e “como esse carro é jovem”. “Seu ator preferido adora”. Pessoas ricas e sorridentes fazendo esportes raros - “Esse é o mundo de Chivas” ou algo assim. Se eu fosse rica e sorridente nunca compraria Chivas, só de birra.

Me incomodam 95% dos slogans, vindos da mente pretenciosa de uma equipe que estava crente que iria me impressionar, após investigar minhas aspirações mais profundas, meu comportamento de massa.

Eu sei que é propaganda é uma indústria como qualquer outra, que envolve agências, pesquisadores, modelos, diretores, fotógrafos, meios de comunicação, lobistas, enfim, muitos empregos e muitas carreiras interessantes. Mas estou sempre me sentindo atacada.

Sem dúvida, eu compro produtos, tenho marcas preferidas e quero saber mais sobre elas. Eu tenho uma vida mais supérfula do que gostaria e alguns reclames realmente conquistam minha afeição. Estou vendo dezenas de marcas ao meu redor, todas adqüiridas em algum momento em que a estratégia de marketing proposta por elas funcionou. Ainda assim, propagadas metidas me ofendem.

Fico fula quando a Nike começa a falar da minha aura porque acredita que mulheres da minha idade estão preocupadas com isso. Bom, nem por isso eu deixarei de comprar o tênis, se eu gostar e não custar uma bica.

Além do mais, as propagandas andam muito parecidas, chatas. Não consigo deixar de perceber que aquelas pessoas são modelos, que foram contratadas para sorrir daquele jeito, fazer aquela pose, que têm fita crepe nas costas, para ajustar as roupas, que há um diretor por trás da cena e uma equipe cansada. Depois, um cara no computador vai tirar todas as imperfeições das pessoas e colocar alguns efeitos. Todos reproduzindo a idéia de publicitários que se degladiam diariamente, cada um tentando ser mais criativo e genial que o outro.

Os filmes também estão uma chatice com os merchandisings mais óbvios. Um ator que amarra seu All Star, um outro que bebe Coca-Cola e só falta fazer o sinalzinho de “Ok” das Organizações Tabajara.

Bordões, então, nem se fala. A palavra bordão por si só já é um tapa na cara. Pois é, “tolerância zero”!

(Então. Estou com um pouco de mau humor.)


Desejo do dia: ser uma boa companhia.

sexta-feira, dezembro 10

Evolução

Antigamente, existiam tribos. As pessoas se conheciam, pertenciam ao grupo, tinham suas funções determinadas e cumpriam rituais cheios de significado. Muitas tribos migravam ao sabor das estações e das interpéries, entrando em conflito com outras tribos.

Antigamente, existiam impérios. O Romano, o Asteca, o Otomano, o Persa... Conquistavam áreas continentais, com seus exércitos arrebatadores e líderes intrépidos.

Antigamente, existiam feudos. A luta pelas terras era intensa. Havia castas, nobreza e reinos e as pessoas comuns sentiam-se protegidas em suas aldeias e burgos.

Antigamente, existiam ideologias. Comunistas, anarquistas, socialistas, fascistas, fundamentalistas, ecologistas. Reuniam-se aquelas pessoas entusiasmadas, com ânimo e interesses comuns, a fim de lutar, com todas as forças, para mudar o mundo que conheciam.

Antigamente, existiam países. Sim! Existiam fronteiras, passaportes e leis distintas. Cada país tinha seu líder e interesses próprios. Havia eleições, tratados, diplomacia e guerras.

Na época em que as pessoas eram inseguras e ainda não haviam aprendido a se comunicar.

Desejo do dia: hoje é sexta-feira, dia de estar com os amigos.


terça-feira, dezembro 7

Síndrome de Expat


Vista da trilha do Victoria's Peak para o Centro e a Baía de Hong Kong. O prédio maior é o IFC II e tem 88 andares.(Outras fotos)

Em pouco mais de um mês estaremos voltando para o Brasil. Desde já estou me despedindo de Hong Kong. Tenho ido caminhar na trilha que sobe e dá a volta no Victoria’s Peak, morro que fica no centro da cidade e é um famoso ponto turístico (foto). São duas horas de caminhada, de porta a porta. A vista lá de cima é surreal, para a mata e para os prédios, para a baía e para o porto.

Fico observando a cidade de todos os ângulos, de dentro da mata fechada (aqui os morros não têm favelas, só mansões), meditando sobre tudo o que aprendi e sobre o que deve acontecer daqui para frente. Agradeço a Deus (que está em todas as coisas) e tento viver o momento. Sei que não vou conseguir evitar aquela sensação de pensar: “Algum dia eu realmente estive aqui/lá?”. Lembrando deste apartamento querido como passado.

Dizem que, apesar de termos uma turma gostosa, o ruim de Hong Kong é que as pessoas estão sempre de passagem. São profissionais expatriados ("expat"), que ficam poucos anos e seguem adiante. Eu nunca havia ouvido falar desta condição. Profissionais de "20 e poucos" anos em diante, que passam a vida mudando de país para país, trabalhando para grandes empresas, tradings, bancos. Que conseguem fazer um lar em cada lugar, tendo filhos e voltando pelo menos uma vez por ano para visitar a família no Brasil. Aproveitam para viajar por muitos países, mergulhar, surfar, fotografar. Sem necessariamente ficarem ricos.

Além dos brasileiros, temos amigos de todos os lugares do mundo, em sua maioria, jovens como nós. Não são estudantes e sim profissionais expatriados. Essas amizades me dão uma visão diferente do mundo. Nos mais de 20 anos que passei em Floripa e nas poucas viagens que fiz ao exterior, conheci poucos estrangeiros. Não fazia muita idéia de como eram as outras culturas.

Agora sei que Floripa é realmente linda. Mas é pequena. O Brasil é lindo, mas também é pequeno. Eu peguei essa síndrome de conhecer mais lugares e mais pessoas e mais paisagens, mas não só por turismo.

O que vejo do alto do Peak, por trás do nevoeiro do entardecer, do explendor das luzes da cidade, é um futuro que nos reserva grandes oportunidades e algumas saudades.



Vista da trilha do Victoria's Peak para a Baía e o Porto de Hong Kong. Nosso prédio tem 27 andares. Moramos no 23o. (Obs: desculpem-me pelas setinhas toscas. Preciso de lições de Photoshop!)

Desejo do dia: energia.


sábado, dezembro 4

Nossas presas

O Homem é o único animal que pode permanecer, em termos amigáveis, ao lado das vitimas que pretende engolir, antes de engoli-las. (Samuel Butler)

Sempre tive frescura para ver cenas de sangue na TV, mesmo sabendo que são “de mentirinha”. Meu pai diz que não precisamos colocar uma violência desnecessária nas nossas vidas. Mas as cenas verdadeiras de animais sendo comidos por outros eram, para mim, as mais chocantes. Até que, dia desses, descobri que os leões e tigres, grandes predadores, não despedaçam cruelmente suas vítimas. Eles as matam antes de comê-las.

Passei a observar as cenas no Discovery e no National Geographic Channel para conferir. Comecei a perceber que, após capturarem a presa, um dos leões se encarrega de morder o pescoço e respirar na sua traqueia para sufocá-la, enquando os outros aguardam. No caso de um bebê elefante, um outro leão ainda morde a ponta da tromba para que ele deixe de respirar.


Leões precisam se alimentar, assim como nós. Nem por isso infrigem uma dor desnecessária às suas presas. Capturam as mais fracas, matam-nas e depois as comem.

Li também que os índios americanos tinham um profundo respeito pelo animal que comiam. Que agradeciam ao animal e à manada pelo alimento. Assim, não penso que deveríamos parar de comer animais, embora eu seja vegetariana.

Lembrei disso porque aqui na Ásia eles têm o costume de comer as lagostas vivas. Eles as prendem, servem-nas vivas e vão tirando o sashimi “fresco” enquanto conversam. Discutimos este costume na aula de inglês e a minha colega coreana, que adora a iguaria, perguntou: “mas vocês acham que elas sentem dor?”.

Andando pelos mercados de Hong Kong vejo pequenos animais confinados, que me parecem estar passando por todo tipo de sofrimento. No Brasil, nos mercados que eu conhecia, já vinha "tudo" empacotadinho, sem forma. Cada um com as suas crenças.

Desejo do dia: ser mais gentil.