É inacreditável o esforço que as pessoas fazem para conseguir martirizar um animal.
Agência Quadra Comunicação para o Jornal O Estado. (Fonte) (Imagem ampliada)
Hoje a TV mostrou as barreiras que a polícia criou para fiscalizar os veículos que pudessem transportar bois para a farra em Governador Celso Ramos. Mas a polícia afirma que os farristas preparam-se com antecedência, trazendo-os antes do início da operação. E que a farra ocorre em lugares de difícil acesso. Que há moradores atentos, preparados com celulares para avisar o grupo de que alguma viatura de aproxima.
A comunidade está fechada e quando a polícia chega o boi já está morto ou agonizando, as pessoas feridas, bêbadas e felizes (!), algumas casas destruídas pelo animal em fuga. Há também denúncia de conivência das autoridades.
A sociedade catarinense que eu conheço não compactua com essa prática ilegal, que ocorre de forma sorrateira, em cantos onde se encondem os criminosos. Praticantes alegam uma tradição herdada dos colonizadores açorianos (dos quais também sou descentente), um elemento da cultura popular, mas é na verdade uma perversão praticada às escondidas por indivíduos que se divertem com o sofrimento alheio. Assim como acontece em rinhas, touradas, entre outros.
Alguns alegam que a "brincadeira não tem nada de mais". Que não há violência porque "só" correm atrás do boi. Mas não ocorre assim. Se não são os homens bêbados e armados de facas e paus que se ferem, são as outras pessoas, como já vi, que se machucam terem a casa invadida pelo boi nervoso. Este ano uma mulher foi agredida pelos farristas ao denunciar a prática, mostrando que a violência gratuíta, estimulada e aceita socialmente, não fica restrita aos animais.
A farra do boi foi proibida apenas em 1997, gerando incontáveis protestos por conta dessas comunidades "tradicionalistas". Alguns tentaram legalizar a prática sob determinadas condições. Querem correr atrás do boi sem machucá-lo. Por que então o machucam atualmente? Até mesmo os traidicionalistas se assustam com o que acontece hoje.
Alega-se que a prática ocorre em áreas economicamente deprimidas e que é uma das únicas formas de diversão dos locais, tradicional. Teriam essas pessoas ficado paradas no tempo por problemas econômicos? Tantos elementos bonitos na cultura açoriana, por que preservar aquele que envolve uma cultura de maldade que a humanidade tenta superar? Como tenta superar a violência doméstica contra as mulheres e as crianças, os preconceitos. Que se faça o boi-de-mamão, o pau de fitas, o terno de reis.
A Lei Federal nº 9.605, de 1998, em seu capítulo V - Dos Crimes Contra o Meio Ambiente Seção I - Dos Crimes Contra a Fauna, em seu Artigo 32, considera crime: "Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exótico. Pena: Detenção, de três meses a um ano, e multa."
Ou seja, a lei reconhece que mais do que uma questão de preservação ambiental, os animais têm direito à sua integridade física, a não serem mal-tradados. Isso tampouco é como a caça, ritual no qual os índios respeitavam e agradeciam sua presa por servir-lhes de alimento. Mesmo na natureza, os grandes felinos enfiam suas presas no pescoço das vítimas e as sufocam antes de devorá-las.
Maltratar uma vida, divertir-se ao vê-la sofrer, não compadecer-se se seus gritos e de sua agonia é uma demonstração de desumanidade que não deveria ser incentivada ou ensinada às novas gerações como tradição. Tantas "tradições" estúpidas foram abandonadas pelo desenvolvimento da civilização humana. Mas há muitas outras que ainda temos que superar!
Boi encontrado morto ontem. (DC)
Sobre a Farra do Boi:
"A Farra começa quando o boi é solto e perseguido pelos "farristas“ (homens, mulheres e crianças), que carregam pedaços de pau, facas, lanças de bambu, cordas, chicotes e pedras. Eles perseguem o boi, que, no desespero de fugir, corre em direção ao mar, onde acaba se afogando; ou em direção às vilas, podendo invadir casas, hotéis ou qualquer lugar onde o animal possa se abrigar. Quando isso acontece, é comum pessoas serem feridas e terem danos materiais.
Antes do evento, o boi é confinado, sem alimento disponível, por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num local onde ele possa ver, mas não possa alcançar." (Fonte)
Antes do evento, o boi é confinado, sem alimento disponível, por vários dias. Para aumentar o desespero do animal, comida e água são colocados num local onde ele possa ver, mas não possa alcançar." (Fonte)
A organização, Fotos da Farra, Gabeira, Campanha 2007, Atualmente, Folha, Enquete Jornal Local, com muitas manifestações a favor, Mais fotos
Desejo do dia: roda de violão. Com a música "O sal da terra" de Beto Guedes
Up Date: Reportagem de hoje no Diário Catarinense
Animais - Território sem lei - LAURA COUTINHO/ Governador Celso Ramos
Ontem, dia "oficial" da farra do boi, cerca de 60 animais foram soltos para delírio da população de farristas que se concentrou no município de Governador Celso Ramos, a 41 quilômetros de Florianópolis.
Ontem, dia "oficial" da farra do boi, cerca de 60 animais foram soltos para delírio da população de farristas que se concentrou no município de Governador Celso Ramos, a 41 quilômetros de Florianópolis.
Além dos moradores, pessoas de várias cidades foram atraídas pela possibilidade de participar da "brincadeira" sem risco de punição, em função do reduzido policiamento no mais tradicional reduto da farra no Estado.
No município, os policiais mantêm uma distância segura, alegando o risco de um possível confronto, os farristas ficam soltos para cometer infrações de trânsito, danos ao patrimônio e perturbar a ordem sem temer qualquer repressão.
São centenas de motociclistas embriagados subindo e descendo morros à procura dos bois em manobras arriscadas, dirigindo veículos sem placa e sem capacete. Brigas são comuns nesta época.
Quem é veterano na farra, denuncia. - Eu gosto de participar, mas antigamente a farra era outra. Hoje é muita droga e bebida. Também não tinha tanto barulho de música alta e das motos. É muita anarquia - disse Maria Monteiro, 60 anos.
A cidade não dorme durante o feriado. Ontem, às 7h, os olhos vermelhos, o passo incerto e a imprudência dos farristas diante do boi denunciavam o sono trocado por uma noite regada a cerveja. Onde e quando cada boi será solto é de conhecimento geral no município. Qualquer morador indica onde está acontecendo a farra do momento. Uma delas, na manhã de ontem, ocorria na Praia de Ganchos de Fora. Centenas de farristas esperavam pela soltura do boi, preso em um mangueirão. Quando o boi é solto, começa a farra propriamente dita. A confusão é geral. Os que chegam mais perto, provocando o boi a uma distância nada recomendável, são, geralmente, aqueles que consumiram mais cerveja durante a madrugada.
Centenas de mulheres e crianças participam da farra, considerada o evento social do ano. - Não temos mais nada. Nem teatro, nem cinema. Nossa única diversão é a farra - defendeu um deles. Quando o boi reage às provocações e corre em direção aos farristas, todos torcem pelo animal, querendo assistir ao confronto. Quanto mais bravo o boi, melhor é a farra. - Agora eles só trazem boi manso. Não tem mais graça. O bom era no meu tempo, quando soltavam os bois bravos, que todo mundo respeitava e saía correndo - lembrou uma farrista veterana.
Perto das 8h de ontem, cinco bois já estavam amarrados na Praia de Ganchos, o local mais "quente" da farra no município. O boi é laçado depois de um tempo de brincadeira, quando, exausto de tanta provocação, já não agüenta mais correr atrás dos farristas. - O boi é laçado quando tá cansado. Mais tarde, o bicho é trocado por outro boi "novo" que eles matam para comer - explicou um farrista que prefere não se identificar.
(...) Festa fechada
No início da manhã de ontem, na praça de Governador Celso Ramos, centenas de pessoas aguardavam a chegada do boi. Comerciantes, precavidos, lançavam mão de tábuas para evitar danos materiais aos estabelecimentos, comuns nesta época. Proprietário de um mercado na Armação da Piedade, João Henrique Monteiro protegeu o local com estrutura de madeira.
- A farra faz parte da tradição daqui. As pessoas deveriam vir conhecer - disse Monteiro, concluindo por advertir a equipe do Diário Catarinense para o perigo de estar ali.
Os farristas não permitem que a imprensa registre nada. Quando avistam uma câmera fotográfica ou filmadora, a palavra repórter corre de boca em boca.
Carnaval fora de época
A farra do boi tem características de evento oficial. Grupos de farristas se paramentam com camisetas coloridas que lembram os blocos de Carnaval. Uma delas, de cor amarela, trazia os seguintes dizeres: "Se o boi não vem pela terra, vem pelo mar. Se não vem pelo mar, vem pelo ar. Mas a farra do boi jamais acabará."
Outra, de cor vermelha, trazia estampada a cabeça de um boi, o nome da Praia de Ganchos e a frase: "Festa Nacional da Farra do Boi".
(...) Festa fechada
No início da manhã de ontem, na praça de Governador Celso Ramos, centenas de pessoas aguardavam a chegada do boi. Comerciantes, precavidos, lançavam mão de tábuas para evitar danos materiais aos estabelecimentos, comuns nesta época. Proprietário de um mercado na Armação da Piedade, João Henrique Monteiro protegeu o local com estrutura de madeira.
- A farra faz parte da tradição daqui. As pessoas deveriam vir conhecer - disse Monteiro, concluindo por advertir a equipe do Diário Catarinense para o perigo de estar ali.
Os farristas não permitem que a imprensa registre nada. Quando avistam uma câmera fotográfica ou filmadora, a palavra repórter corre de boca em boca.
Carnaval fora de época
A farra do boi tem características de evento oficial. Grupos de farristas se paramentam com camisetas coloridas que lembram os blocos de Carnaval. Uma delas, de cor amarela, trazia os seguintes dizeres: "Se o boi não vem pela terra, vem pelo mar. Se não vem pelo mar, vem pelo ar. Mas a farra do boi jamais acabará."
Outra, de cor vermelha, trazia estampada a cabeça de um boi, o nome da Praia de Ganchos e a frase: "Festa Nacional da Farra do Boi".