(Ditado "manezinho")
Relendo meus diários, tenho descoberto que as coisas não aconteceram como eu as lembrava. Essa constatação me fez recordar uma frase - se alguém puder me ajudar a encontrá-la, sou grata - que dizia mais ou menos assim “as coisas não são como aconteceram e sim como as lembramos”.
Por vezes, em meu diário, eu escrevia não só o que eu havia feito, mas com quem e como me sentia ao final do dia. Lendo as anotações, pude viver novamente as histórias e descobrir que eu me diverti bem mais do que eu lembrava, que eu encarei melhor os acontecimentos do que costumava encarar as lembranças deles. Alguns desentendimentos, algumas festas que eu perdi, desilusões, deixaram só pequenas anotações. Mas as do tipo “adorei”, “um dia perfeito”, “estou muito feliz”, foram muito mais freqüentes.
Pude também detectar os momentos em que aconteceram pequenas mudanças na minha personalidade e, por vezes, até os motivos. Fui cuidadosa nas anotações com relação à impressão que tinha das pessoas a minha volta, mas acertei e errei como acerto e erro hoje.
Em certas passagens, nem eu suporto o que pensei, o que escrevi, porque fui muito chata, birrenta, metida, convencida e egoísta. Mas depois, mudava e era a pessoa mais doce que jamais pensei ter sido. No entanto, nem sempre eu mudava para melhor.
Lembro de mim como um fragmento, mas eu era uma totalidade, como agora. Ainda que desde de então eu tenha aprendido mais, que tenha amadurecido, não significa que eu tenha sido uma pessoa incompleta, apenas menos experiente. Com isso, passei a admirar e entender melhor os adolescentes. Eu não fui adolescente, eu estive adolescente. Eu não sou adulta, eu estou vivendo uma vida adulta. Os adolescentes não são potenciais adultos, eu não sou uma potencial idosa, sou uma pessoa completa, por mais maravilhosa que eu possa vir a ser uma dia.
Escrevi, em fevereiro de 1992:
"O Futuro
Amanhã chegará?
Se chegar, eu vou.
Se esperar, já passou.
Se procurar, nunca entrará.
O futuro está tão próximo!
E assim ficará, eternamente.
É o que nunca está aqui e sempre muda.
Nunca vem, mas sempre passa
E você não sente.
Sempre ali e sempre ausente.”
Desejo do dia: acertar.
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