As notícias que chegam do Haiti me fazem lembrar um ótimo filme que assisti há pouco tempo "Hotel Ruanda"*, chorando. Em 1994, quase 1 milhão de pessoas foram mortas em cerca de 100 dias, sem que isso interessasse muito a ninguém fora de Ruanda.
Há quem possa dizer que é coisa lá deles, que se odeiam. Mas, segundo historiadores, a diferença étnica entre Hutus e Tutsis não existia realmente. Sempre foi algo mais ocupacional, chamavam a elite e criadores de gado de Tutsi e os agricultores de Hutus. Eles falavam a mesma língua casavam entre si e eram difíceis de distinguir. Quando os belgas colonizaram a região, fizeram um senso estabelecendo que os habitantes mais altos e de pele mais clara, narizes mais finos seriam Tutsis, deram a eles o poder e cargos públicos. Os de pele mais escura ficaram nos campos e foram chamados de Hutus. Foram emitidas carteiras de identidade definindo as etnias. Antes de ir embora, os belgas deram o poder para os Hutus. Fomentaram a separação étnica e o rancor. Por conta desse ódio, quase um milhão de pessoas foram assassinadas a tiros e golpes de facão. Bom, muitas outras atrocidades continuaram acontecendo.
A história traz um daqueles momentos de lucidez, nos quais lembro que "existem mais eventos acontecendo no mundo do que o que aparece na mídia". Ainda que aceitemos que não seja de caso pensado, os editores decidem o que nos interessa ou não saber. Se eles não noticiam, não fico sabendo, ainda que ocorra algo do meu interesse na cidade ao lado.
A Internet altera um pouco isso ao criar um novo canal de comunicação, todavia com restrições.
Poucas são as criaturas nesse mundo que podem desfrutar do modo de vida "estudo-lar-compras-viagens-carreira-aposentadoria". Poucos vivenciam esse modelo, muitos correm atrás e uma imensa parte da população mundial nem imagina o que seja. A mídia é feita para os sonhos da minoria.
Os editores não incluem nesse sonho a nossa responsabilidade com o restante dos seres humanos. Se estão isolados na África, não ameaçam grandes riquezas como o petróleo, não nos afetam, não são de interesse?
Quando eu era voluntária na Crossroads, em Hong Kong, assisti uma apresentação dos voluntários que estiveram visitando Uganda, onde as crianças são raptadas para lutar nas milícias. Antes, são forçadas a atear fogo em suas vilas e a matar membros da sua família, assim, não terão para onde voltar caso consiguam fugir. Outros voluntários manda notícias de Jeruzalém, a cidade sagrada, onde havia toque de recolher, racionamento de tudo e bombas explodindo. Outros estiveram no Afeganistão...
Aqui ao lado, nas favelas de umas das cidades com o maior índice de desenvolvimento do País, ninguém noticia histórias que poderiam gerar tristes roteiros de filmes.
Sobre a América Latina também noticiam pouco. Acontecerá no Haiti algo como em Ruanda?
Não sou comunista, nem socialista e se tivesse que me filiar a algum partido, seria o Partido Verde. Mas sei que os eventos não andam bem e que precisamos de uma nova maneira de viver.
*Um outro filme que mostra um pouco dessa realidade, mas de forma bem artificial, é "Amor sem fronteiras" com Angelina Jolie. Também estou com muito vontade de assistir "O Jardineiro Fiel".
Desejo do dia: fé.
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