Eu não tenho notícias de nenhum ancestral africano. Meu pai é argentino e tem cara de cigano e índio, minha mãe é catarinense de origem portuguesa, mas gostaria de saber mais sobre a aventura de algum homem ou mulher negra que tenha entrado nessa mistura rica que forma o meu DNA.
Adoro a África. Adorei desde que olhei pela janela do avião e avistei o continente. Foi a visão de uma extensa praia de areias brancas, separando o Atlântico do deserto do Kalahari. Nas horas seguintes, não sei bem, pois me perdi no tempo, contemplei um deserto vivo, de muitas cores e padrões, de altíssimas dunas brancas, sinuosas areias vermelhas e outras formas em movimento. Quando o verde baixinho foi aparecendo, eu não sabia, mas era sinal de chegávamos à civilização e logo pude ver os primeiros povoados. Ao pisar no aeroporto de Joanesburgo, minha paixão se confirmou. Pude ver a savana pelas janelas de vidro e imaginei leões e elefantes. Exatamente como alguns estrangeiros esperam ver índios e mulatas ao chegar ao Brasil.
Não saí do aeroporto e peguei outro vôo para Hong Kong, mas a oportunidade de conhecer um pouco da África veio alguns meses depois, quando passamos a lua-de-mel na Cidade do Cabo (Cape Town), a cidade mais encantadora que já conheci.
Adorei como as pessoas sorriem largamente, como são bonitas, as músicas, as capelas, os canions, os animais no caminho, o mar, o vinho. Mas essa é uma África mais bonita, mesmo com todo o histórico de desigualdade.
Em Hong Kong eu trabalhei numa ONG que enviava muitos donativos para a África e conheci alguns refugiados. Ficava curiosa, mas temerosa de perguntar sobre o seu passado. Tenho interesse nas histórias, na cultura, na situação, em como poderia ajudar de alguma forma um continente tão grande e bonito, a melhorar o padrão coletivo de vida. Não é justo o que acontece com a África. O mundo é injusto eu sei, mas esquecer as pessoas, um continente inteiro, como ocorre com a África, é incompreensível.
O mesmo amor e interesse que eu tenho pela cultura da América Latina, onde certamente estão as minhas raízes, tenho pela África. Só que a América Latina é ternura e a África é arrebatamento. A Ásia, que eu pude conhecer um pouco melhor, é curiosidade, a Europa, romance e nostalgia e a Oceania, uma extravagância, uma alegria. Ah, tem a América do Norte, mas essa ainda é desconfiança.
Algumas músicas africanas me provocam um efeito quase paralisante sob a pele, tocam fundo demais. Ver uma capela na rua, em Cape Town, foi uma experiência muito marcante. A música naquelas vozes, vinha do coração, do chão, dos elementos.
Por isso, sei que a minha aventura humana ainda vai ter alguma boa relação com a África. As minhas células me dizem isso.
Acredito que a história dos povos, das crianças, homens, mulheres, guerreiros que foram capturados em suas terras e levados para um outro continente, da matança, da barbárie, ainda não foi propriamente contada, pois todavia estamos sob a miopia da mesma sociedade escravagista de há pouco mais de um século. Assim como a história da América Latina também não está contada. Talvez só consigamos ver melhor o que se passa em boa parte do mundo, à distância de mais um século adiante.
Lembrei de tudo isso ao ver as fotos desse projeto: "Um dia na África", como fotos do dia 28 de fevereiro de 2002. "Um dia normal, simples, como tantos outros,captado em 53 países do Continente Africano (incluindo Angola, Cabo Verde,São Tomé e Príncipe; ...), pelas câmaras de uma centenas de fotógrafos,de 26 países, de todo o mundo... "
Veja as fotos do projeto.
Nossas fotos da Cidade do Cabo:
Sugestão de Filmes:
- Hotel Ruanda
- Amor sem Fronteiras
- O Jardineiro Fiel
- A Montanha dos Gorilas
- Entre dois Amores
- Os deuses devem estar loucos
- A Sombra e a Escuridão (mesmo não gostando da idéia de "homens brancos salvadores")
Aceito sugestões! Também de CDs.
Desejo do dia: virtudes.
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