sexta-feira, novembro 12

Cotidiano

Eu tô com o dedão do pé coçando. O Bruno, que não acredita nem em duendes, disse é para eu não coçar porque isso significa dinheiro (?). Às vezes eu não sei quando ele está falando sério.

Devo estar prestes a receber uma bolada pois algum bicho me mordeu e coça muito, pertinho na unha. Não me lembro de ter visto formigas em Hong Kong. Para compensar, o outro pé, que foi pisado ontem por um salto agulha ensandecido, está doendo. O que significa um pé pisado por salto agulha?

Eu ia perguntar para o Bruno, mas ele está lá, concentrado, trabalhando. Ele é uma criatura disciplinada que, quando não está na China ou numa reunião por aqui, trabalha em casa, no micro. Ele põe uma musiquinha e fica lá absorto. Às vezes, como agora, eu fico na sala, entretida com o laptop e nós trocamos uns comentários a cada uma hora. E nem precisamos gritar, no nosso apartamento “imenso”.

Como ele coloca para tocar as 999 mil músicas do arquivo de forma aleatória, de tempos em tempos, surgem bizarrices como essa que estamos ouvindo agora: Trem Azul, do Roupa Nova. “Te dou meu coração, queria dar o mundo...” E ele ainda companha um trecho que acabou de aprender: “confessar, sem medo de errar...” e cantarola o resto. Às vezes faz isso porque sabe que eu vou rir, às vezes por viagem mesmo.


Depois de quase 10 anos, de vez em quando, penso que ele é na verdade uma parte de mim fazendo coisas que eu não poderia estar fazendo naquele momento ou coisas que eu faria se fosse homem ou coisas que eu faria se eu quisesse ser outra pessoa. Ou ele é simplesmente a pessoa que eu seria se tivesse que viver comigo (?).


América, “A horse with no name”, la,la,la,la,la,la….

Com o pé que dói eu coço o pé que coça e com o pé que coça eu faço carinho no pé que dói. Isso é amor. Se não fosse confortante e divertido, não seria amor.

Desejo do dia: risos.

Ah, o Bruno é engenheiro de qualidade de uma empresa brasileira de telefones.


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