terça-feira, dezembro 28

Estamos bem

Ola!

Nossos amigos estao preocupados, mas apenas hoje vimos as noticias de que houve um desastre por aqui. Estamos em Malapascua, nas Filipinas, uma pequena Ilha onde as pessoas vao para mergulhar e por aqui esta tudo bem. Ouvimos dizer que ouve um terremoto, mas nao sabiamos que havia sido tao horrivel. Esta manha, uma pessoa olhou a borrachinha da minha mascara de mergulho de Phi Phi, na Tailandia e comentou: voce esteve la? Nao sobrou nada! Fiquei espantada. Ai comecamos a saber que havia sido um grande desastre. Fiquei horrorizada... aquela ilha tao bonita, as pessoas que conhecemos ha pouco tempo, o nosso dive master e tudo o mais... tudo se foi? Acabamos de assistir as imagens na CNN. Estamos chocados! Mas estamos bem. Ligamos imediatamente para avisar nossos pais e procurei a unica Internet da Ilha para escrever.

A noite esta linda, lua cheia e estrelas. Beijos, Lili.

sábado, dezembro 25

Até mais


Antes de voltarmos para o Brasil, no dia 20 de janeiro, vamos fazer uma viagem por aqui. Voltaremos no dia 03. Acho que não vai dar para postar nada enquanto isso.

Obrigada a todos que comentaram e mandaram e-mails desejando-nos um feliz Natal. A festa foi ótima, com mais 20 amigos. Realmente não tive tempo de mandar mensagens para todos, mas retribuo de coração.

Esse tempo... tenho certeza de que ele não existe, mas mesmo assim ele me assombra.

Ainda tem muitas coisas que eu quero fazer.
Eu quero voltar para Uluwatu, em Bali
E quero fazer uma caminhada à noite na Chapada Diamantina.
Eu quero comer um paozinho gostoso na Itália
E comprar um Buda no Camboja.
Quero encontrar meus ancestrais, na Espanha, no Marrocos, nos Andes...
E me sentir estranha numa pequena ilha do pacífico.
Eu quero admirar a luz de um passeio pelo Nilo
E quero me perder um pouquinho num mercado de Stambul.
Quero assistir a um por-do-sol na savana,
Me esticar na grama e contemplar as montanhas da Nova Zelândia.
Quero sentir frio, a beira do mar na Cornualha
E rir dos pinguins na Patagônia.
Quero ver jovens numa praia da Grécia
E subir as escadas de um templo maia.
Não necessariamente nessa mesma ordem.
Ainda quero ter muitas outras experiências e viagens,
Depois, deitar e descansar.

Desejo do dia: Boa viagem!

quarta-feira, dezembro 22

Feliz Natal!


Família em Belém, Oriente Médio, 2004. (Fonte)

O presépio, um dos símbolos do Natal é a representação de um momento sagrado na cidade de Belém. Só que as noites naquela cidade não têm sido assim tão felizes. Belém é uma das cidades ajudadas pela organização na qual eu sou voluntária, a Crossroads. Os colegas que estiveram lá trouxeram fotos das pessoas e de locais destruídos pelas bombas. Lá, tiros e explosões podem ser ouvidos freqüentemente durante o dia e à noite, as pessoas sofrem incertezas e privações diversas, de mantimentos, de bens, da liberdade. (O relato me lembrou um pouquinho a situação dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, mas fiquei quietinha.)

“A continuidade da ocupação israelense no entorno de Belém impedirá a livre circulação de palestinos da cidade natal de Cristo no restante da Cisjordânia. Também serão reforçados os bloqueios no acesso a Jerusalém” (Fonte)

Diante disso, é fácil pensar que os outros que estão errados e que há muita violência no mundo. Posso então pensar que eu até que sou legalzinha. Mas no fundo sei que o mundo reflete um ódio que às vezes eu também tenho, mesmo que me doa admitir. Admitir que sei como fazer as pessoas sofrerem, que sinto mágoa, desejo de vingança, ressentimento, inveja, intolerância, um pouco de culpa e egoísmo. Tudo aqui guardadinho num canto, para que Papai Noel não veja e assim me traga lindos presentes...

Algumas pessoas podem a passar a vida rejeitando sentimentos naturais, sem aprender a lidar com eles, acumulando incertezas, depressão e patologias diversas. Afinal, é preciso ser um cidadão honesto e virtuoso, ao contrário daqueles bandidos que se encontram nas cadeias, dos políticos corruptos, dos terroristas e assassinos em geral.

E no meio dessa loucura, quem está realmente nos ensinando a conviver?

O que eu desejo a todos neste Natal e nessa virada de ano é que cada um de nós possa encontrar a sua paz, o seu caminho, guiado pelo Deus que está em nossos corações e em todas as coisas. Feliz Natal e feliz Ano Novo, amigos!

"Jesus não veio de além do horizonte azul para fazer da dor o símbolo da vida, mas para fazer da vida o símbolo da verdade e da liberdade. (...)
Jesus não desceu do mundo da luz para destruir as nossas casas e, com suas pedras, construir conventos e eremitérios. (...)
Jesus não veio ensinar aos homens a erguer igrejas suntuosas ao lado de casebres miseráveis e de habitações frias e escuras, mas veio para fazer do coração do homem um templo, e de sua alma um altar, e de sua mente um sacerdote." (Gibran)


terça-feira, dezembro 21

Adendo ao amigo secreto


Para quem quiser ver a bela homenagem que ganhei do meu amigo secreto, está aqui.

Não tive tempo de ler todo o blog da amiga que tirei, mas estava tentando terminar agora e encontrei essa passagem. Preciso colocar aqui, porque fiquei admirada com a sua força de vontade. Todos nós temos esforços e conquistas, mas às vezes não paramos para apreciá-las. Por isso gosto de uma frase que diz: "Senhor, vós, que tanto já nos destes, dai-nos uma coisa mais: um coração agradecido". (George Herbert)

"No ano de 2003 arrumei um emprego que tinha um salário razoavelmente decente, meus primeiros salários foram para comprar um computador, depois comecei a juntar dinheiro para construir a casa da minha mãe, mudei de emprego o salário baixou e depois subiu, consegui comprar um carro usado, e agora acabamos de nos mudar para os cômodos novos, inauguramos 2 quartos a cozinha e o banheiro, faltam ainda o quarto do meu irmão e a sala. Mas tbm falta a minha casa, e aí lá se vem mais sala, mais cozinha, mais banheiro, fico me perguntando qdo vou acabar... Mas hoje estou aqui para demonstrar minha satisfação, poderia ter pego meu dinheiro e ido viajar ou ter gasto com todas as roupas e sapatos que sonho ter....poderia ter usado para me divertir, ou poderia estar guardando para o futuro..... Mas como é bom ver a satisfação de minha mãe numa casa que tem piso....que tem parede.... num banheiro que tem pia e chuveiro elétrico.....como é bom olhar para a parede e não ver o lado de fora....Meu Deus, que privilégio vc está me dando...está me dando uma oportunidade única, estou conseguindo realizar s sonhos da minha mãe e consecutivamente os meus....pelo menos alguns, porque como disse meu irmão ontem: Nunca vi alguem ter tantos sonhos...eu adoro sonhar e falta tanta coisa.... Mas num país como o Brasil com tanta desigualdade social, com fome e desemprego, com tanta ignorância....me orgulho de ser filha de uma mãe que trabalhou na roça, ser filha de um pai ignorante e inconsequente que largou a familia na rua da amargura, ser do interior no Mato Grosso do Sul, de ter vindo parar no Acre sem dinheiro para comprar margarina e shampoo, de não ter tido uniforme e nem livros pra ir para o colégio, e estar onde estou...eu estou dirigindo meu proprio carro....quem diria...estou escrevendo no meu computador e daqui a pouco vou estudar para a minha monografia....para alguns isto é muito pouco...mas para mim isto é uma grandíssima vitória. (...) " (Minerva)

segunda-feira, dezembro 20

Amigo secreto


Mais uma árvore dos desejos que encontrei por aí.
Quando vi o nome da minha amiga secreta, lembrei dela.

Depois que criei esse blog, conheci muitas pessoas interessantes, virtualmente. Tenho sido espantosamente extrovertida por aqui, mas a verdade é que eu sou, como diriam os astrólogos, um caranguejo na minha casca, assustada com aquela frase do Millor: "Quão maravilhosas as pessoas que não conhecemos bem". Por isso, penso que sou algum tipo de amiga sempre secreta ou simplesmente estranha.

Eu acho que não participaria de um encontro de blogueiros, sou muito encabulada para essas coisas (reais), mas participei de um amigo secreto, (virtual). A idéia é fazer uma homenagem, hoje, para os nossos amigos secretos.


Não sei muito sobre a menina que tirei, mas ela escreve com sinceridade a respeito de suas angústias, estranhamente muito parecidas com as minhas. O que me faz pensar que, apesar de todo nosso esforço, nós humanos somos desconcertantemente parecidos.

Minha homenagem é um texto de Victor Hugo que fala sobre desejos (o mais sincero que conheço) e que inspirou uma música dos Titãs, para essa menina que se tem o apelido de
Minerva e cujo nome, não sei se posso revelar.

"Desejo primeiro que você ame, e que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis e que pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, que essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer e que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga 'isso é meu', só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, tenha uma boa mulher e que sendo mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes. E quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a lhe desejar ". (Victor Hugo)

Desejo do dia: este mesmo.


sexta-feira, dezembro 17

Mamãe, eu vou para a Califórnia


No site que fiz sobre Hong Kong, as pessoas costumam perguntar como fazer para morar fora. É claro que, se você tem dinheiro, pode ir na boa, é só buscar um curso e se matricular. Mas, para os menos abonados, existem outras opções, como obter bolsas de estudos ou conseguir um emprego que o leve para fora.

Em Floripa, boa parte das pessoas que eu conheço já passaram um tempo no exterior. Há um certo costume das famílias de economizarem para colocar os filhos em programas de intercâmbio. E há também uma cultura dos professores da Universidade Federal de Santa Catarina, de fazerem alianças com outras universidades para Doutorados sanduíche e estágios, o que facilita bastante a busca do estudante.

Fiz uma pesquisa sobre o assunto e vou colocar aqui, rapidamente, o que encontrei.


Programas de intercâmbio

Normalmente pagos, valem muito à pena. Além de contrubuir para a proficiência em uma nova língua, morar fora do país é um bom meio para desenvolver a capacidade de comunicação e abrir os horizontes. É certo que não é só isso que faz a diferença no âmbito profissional, mas ajudou muito para diversas pessoas que conheço e que não estariam aqui em HK, por exemplo, se não fosse por isso. Para quem quer fazer intercâmbio, ajuda participar de instituições como clubes Rotary e CISV.


Bolsas de estudo

Durante o seu curso universitário. Você pode procurar fazer um intercâmbio com uma outra universidade no exterior, estudando alguns meses lá. Ajuda muito se você tiver algum projeto de pesquisa. Nesse caso você pode procurar o site da universidade almejada e verificar se ela disponibiliza esse tipo de intercâmbio. Também existem alguns programas internacionais de estágios, como o do Banco interamericano de Desenvolvimento (BID): link. Há também um programa especial para afrodescentenes e indígenas: link.

Mestrado e doutorado. São as bolsas mais tradicionais e mais ofertadas. Você pode escolher uma área de estudo e procurar alguma universidade que esteja desenvolvendo um programa de pesquisa na área ou simplesmente escolher o curso desejado e fazer um pedido de inscrição. Com a carta de aceitação, já pode procurar uma bolsa que pague as despesas do curso. Algumas pagam apenas parte, outras até a passagem. A bolsa pode ser da própria universidade ou de alguma instituição ou governo. Entre no link a seguir e veja que são muitas as possibilidades: http://www.dce.mre.gov.br . Procure por “Cursos para brasileiros”, existem programas em “entidades internacionais” e “governos e instituições”. É o melhor site que eu conheço sobre o assunto e tem sido atualizado constantemente. Normalmente esse passo exige que você tenha conhecimento do idioma do país. Um dos programas é o Alban, para quem quer estudar na União Européia.

Cursos prontos. Nos quais
você tem que preencher determinadas características, como experiência na área, para se cadidatar às vagas. Uma vez, indiquei um desses para um amigo nosso. Ele não sabia falar inglês direito, mas se esforçou, conseguiu cartas de recomendação, foi passando de etapa em etapa e acabou indo passar seis meses na Alemanha, estudando energia eólica (cataventos gigantes). Ex: Bolsas OEA diversas e cursos presenciais. A japonesa Jica, também disponibiliza esse tipo de curso. Conheço várias pessoas que já foram passar alguns meses no Japão estudando assuntos determinados.


Trabalho

Existem aqueles programas de trabalho em estações de esqui, navios e afins, mas esses eu não conheço bem. Penso que quem realmente quer trabalhar fora deve procurar desde cedo, trabalhar em alguma empresa que tenha o costume de mandar seus empregados para o exterior, como o HSBC ou a Embraer, por exemplo. Ou em algum órgão do governo como o Itamarati. Bom, são muitas as profissões que podem levar você para trabalhar no exterior, como a do Zeca Camargo, por exemplo. Mas não é nada fácil chegar lá. Aqui em HK, a maior parte dos brasileiros trabalha para empresas que compram ou vendem na China. Bom, um amigo é arquiteto, mas começou na Inglaterra e foi transferido para cá.


ONGs

Outra maneira interessante é participar de um programa de voluntário, mas a má notícia é que eles costumam cobrar. Sim, tirando algumas como a ONU, que pode pagar algumas despesas, muitas intituições que levam você e sua boa-vontade para salvar os rinocerontes da Indonésia e as florestas da Nova Zelândia, desde que você pague uma certa quantia. Pode ser bem mais interessante do que ir como turista e até mais barato, mas não costuma ser de graça. Exemplo: Global Volunteer. Outras oportunidades de voluntariado e algumas que cobrem as despesas: One World e Idealist.

O trabalho remunerado em ONGs, normalmente te leva a participar de muitos eventos fora do país, mas é preciso ter conhecimentos de outros idiomas para conseguir um. Veja algumas vagas aqui: Rits.


Ir por conta

Exige um espírito decidido e aventureiro. Quando você é jovem, trabalhar lavando pratos ou num hotel pode ser muito interessante e até vale muito à pena, mas depois de velho, eu não iria.

Existem outras maneiras, é claro. Eu não pesquisei tanto assim e procurei mais na minha área. Outras profissões devem ter seus caminhos especiais. Se você tem alguma dica ou discorda de algum ponto, pode colocar ali nos comentários.


Bom, também pode acontecer de você se casar com um(a) estrangeiro(a), sua família se mudar ou seu marido/esposa ser transferido(a), como no meu caso.

Além disso, como eu vi alguém dizer o outro dia, você também pode começar a vender os seus órgãos e ir se mudando aos pouquinhos. Tenho certeza de que existem outras idéias engraçadinhas, mas essas eu deixo para a criatividade dos meus amigos comediantes de plantão.

Desejo do dia: pizza!!!

quarta-feira, dezembro 15

Segredos de Hong Kong


Objetos expostos na Cat Street, Hong Kong.

Me perguntam porque eu digo que Hong Kong é a cidade onde todas as pessoas e objetos perdidos do mundo um dia vão parar.

Perdeu a sua capinha de celular de oncinha? O batedor de ovos? Um Snoop da sua coleção? Uma moeda? Tenho uma suspeita: veio parar em Hong Kong. Sim, junto com aquele pé de meia, que, neste momento deve estar sendo vendido por velhinhos misteriosos, em alguma calçada ou beco de Sheung Wan.


Detalhe, um outro dia, no mesmo lugar.

Nas tardes de fim-de-semana seus objetos perdidos podem ser encontrados ao longo da Hollywood Road, a rua das lojas de antiguidades, onde aqueles que foram perdidos pelas gerações passadas também se amontoam.

Pare numa esquina de Central e observe a população que passa. Entre a massa de cabelos negros e olhares orientais você notará muitas pessoas diferentes, em sua maioria jovens, de todas as fisionomias, idiomas, formas, estilos. Mudaram-se para Hong Kong? Nasceram aqui? Provavelmente não. Estão de passagem. Pela Ásia, pelos negócios, pela aventura. Essa passagem costuma durar dias para alguns, semanas e até meses para outros. Para poucos conta-se em anos. Por um momento, ao ver vikings, turbantes, sarongs, ternos, clubbers, turistas e cowboys australianos, você vai ter a impressão de que todas as pessoas abduzidas no mundo, foram deixadas aqui, entre a Queens e a De Voax Road.

Hong Kong é como um buraco negro que atrai a tudo e todos, chacoalha, transforma e depois cospe longe, em todas as direções. Todas as coisas que se perdem no processo, os velhinhos de Hong Kong coletam e vendem, com seus olhares marotos.

Desejo do dia: parabéns para o João, meu padastro muito gente-fina, que faz a minha mami feliz, que tem um sorriso largo e um grande coração. Muita saúde! Muita felicidade! Muitos anos de vida!!!


João e mami, em maio, no nosso casamento, em Floripa. (Foto de Norton José)


Paizinho e Si, no mesmo evento, que é para ninguém ficar com ciúmes.

Amo vocês.

terça-feira, dezembro 14

Um "must"

Situando: toda vez que eu digo que não gosto de alguma coisa, o Bruno vem que dizer “Essa é nova!” ou "não generalize" e eu faço cara de "nunca gostei". Aí, qualquer dia ele vem me perguntar “Ué, você não disse que não gostava disso?”. “Quem, eu? Não foi bem assim”.

Pois então, não me dou com propagandas. É como aquele mau ator que estraga um filme porque você percebe que é uma pessoa atuando. Incomoda-me perceber uma propaganda.

Não gosto de pensar que eles me analisaram por inteiro, tentaram criar algo que chamasse a minha atenção, que me provocasse um sentimento “x” e a vontade de ter determinado produto. “Veja como esse sapato é ousado”, “como essa cerveja é bem-humorada” e “como esse carro é jovem”. “Seu ator preferido adora”. Pessoas ricas e sorridentes fazendo esportes raros - “Esse é o mundo de Chivas” ou algo assim. Se eu fosse rica e sorridente nunca compraria Chivas, só de birra.

Me incomodam 95% dos slogans, vindos da mente pretenciosa de uma equipe que estava crente que iria me impressionar, após investigar minhas aspirações mais profundas, meu comportamento de massa.

Eu sei que é propaganda é uma indústria como qualquer outra, que envolve agências, pesquisadores, modelos, diretores, fotógrafos, meios de comunicação, lobistas, enfim, muitos empregos e muitas carreiras interessantes. Mas estou sempre me sentindo atacada.

Sem dúvida, eu compro produtos, tenho marcas preferidas e quero saber mais sobre elas. Eu tenho uma vida mais supérfula do que gostaria e alguns reclames realmente conquistam minha afeição. Estou vendo dezenas de marcas ao meu redor, todas adqüiridas em algum momento em que a estratégia de marketing proposta por elas funcionou. Ainda assim, propagadas metidas me ofendem.

Fico fula quando a Nike começa a falar da minha aura porque acredita que mulheres da minha idade estão preocupadas com isso. Bom, nem por isso eu deixarei de comprar o tênis, se eu gostar e não custar uma bica.

Além do mais, as propagandas andam muito parecidas, chatas. Não consigo deixar de perceber que aquelas pessoas são modelos, que foram contratadas para sorrir daquele jeito, fazer aquela pose, que têm fita crepe nas costas, para ajustar as roupas, que há um diretor por trás da cena e uma equipe cansada. Depois, um cara no computador vai tirar todas as imperfeições das pessoas e colocar alguns efeitos. Todos reproduzindo a idéia de publicitários que se degladiam diariamente, cada um tentando ser mais criativo e genial que o outro.

Os filmes também estão uma chatice com os merchandisings mais óbvios. Um ator que amarra seu All Star, um outro que bebe Coca-Cola e só falta fazer o sinalzinho de “Ok” das Organizações Tabajara.

Bordões, então, nem se fala. A palavra bordão por si só já é um tapa na cara. Pois é, “tolerância zero”!

(Então. Estou com um pouco de mau humor.)


Desejo do dia: ser uma boa companhia.

sexta-feira, dezembro 10

Evolução

Antigamente, existiam tribos. As pessoas se conheciam, pertenciam ao grupo, tinham suas funções determinadas e cumpriam rituais cheios de significado. Muitas tribos migravam ao sabor das estações e das interpéries, entrando em conflito com outras tribos.

Antigamente, existiam impérios. O Romano, o Asteca, o Otomano, o Persa... Conquistavam áreas continentais, com seus exércitos arrebatadores e líderes intrépidos.

Antigamente, existiam feudos. A luta pelas terras era intensa. Havia castas, nobreza e reinos e as pessoas comuns sentiam-se protegidas em suas aldeias e burgos.

Antigamente, existiam ideologias. Comunistas, anarquistas, socialistas, fascistas, fundamentalistas, ecologistas. Reuniam-se aquelas pessoas entusiasmadas, com ânimo e interesses comuns, a fim de lutar, com todas as forças, para mudar o mundo que conheciam.

Antigamente, existiam países. Sim! Existiam fronteiras, passaportes e leis distintas. Cada país tinha seu líder e interesses próprios. Havia eleições, tratados, diplomacia e guerras.

Na época em que as pessoas eram inseguras e ainda não haviam aprendido a se comunicar.

Desejo do dia: hoje é sexta-feira, dia de estar com os amigos.


terça-feira, dezembro 7

Síndrome de Expat


Vista da trilha do Victoria's Peak para o Centro e a Baía de Hong Kong. O prédio maior é o IFC II e tem 88 andares.(Outras fotos)

Em pouco mais de um mês estaremos voltando para o Brasil. Desde já estou me despedindo de Hong Kong. Tenho ido caminhar na trilha que sobe e dá a volta no Victoria’s Peak, morro que fica no centro da cidade e é um famoso ponto turístico (foto). São duas horas de caminhada, de porta a porta. A vista lá de cima é surreal, para a mata e para os prédios, para a baía e para o porto.

Fico observando a cidade de todos os ângulos, de dentro da mata fechada (aqui os morros não têm favelas, só mansões), meditando sobre tudo o que aprendi e sobre o que deve acontecer daqui para frente. Agradeço a Deus (que está em todas as coisas) e tento viver o momento. Sei que não vou conseguir evitar aquela sensação de pensar: “Algum dia eu realmente estive aqui/lá?”. Lembrando deste apartamento querido como passado.

Dizem que, apesar de termos uma turma gostosa, o ruim de Hong Kong é que as pessoas estão sempre de passagem. São profissionais expatriados ("expat"), que ficam poucos anos e seguem adiante. Eu nunca havia ouvido falar desta condição. Profissionais de "20 e poucos" anos em diante, que passam a vida mudando de país para país, trabalhando para grandes empresas, tradings, bancos. Que conseguem fazer um lar em cada lugar, tendo filhos e voltando pelo menos uma vez por ano para visitar a família no Brasil. Aproveitam para viajar por muitos países, mergulhar, surfar, fotografar. Sem necessariamente ficarem ricos.

Além dos brasileiros, temos amigos de todos os lugares do mundo, em sua maioria, jovens como nós. Não são estudantes e sim profissionais expatriados. Essas amizades me dão uma visão diferente do mundo. Nos mais de 20 anos que passei em Floripa e nas poucas viagens que fiz ao exterior, conheci poucos estrangeiros. Não fazia muita idéia de como eram as outras culturas.

Agora sei que Floripa é realmente linda. Mas é pequena. O Brasil é lindo, mas também é pequeno. Eu peguei essa síndrome de conhecer mais lugares e mais pessoas e mais paisagens, mas não só por turismo.

O que vejo do alto do Peak, por trás do nevoeiro do entardecer, do explendor das luzes da cidade, é um futuro que nos reserva grandes oportunidades e algumas saudades.



Vista da trilha do Victoria's Peak para a Baía e o Porto de Hong Kong. Nosso prédio tem 27 andares. Moramos no 23o. (Obs: desculpem-me pelas setinhas toscas. Preciso de lições de Photoshop!)

Desejo do dia: energia.


sábado, dezembro 4

Nossas presas

O Homem é o único animal que pode permanecer, em termos amigáveis, ao lado das vitimas que pretende engolir, antes de engoli-las. (Samuel Butler)

Sempre tive frescura para ver cenas de sangue na TV, mesmo sabendo que são “de mentirinha”. Meu pai diz que não precisamos colocar uma violência desnecessária nas nossas vidas. Mas as cenas verdadeiras de animais sendo comidos por outros eram, para mim, as mais chocantes. Até que, dia desses, descobri que os leões e tigres, grandes predadores, não despedaçam cruelmente suas vítimas. Eles as matam antes de comê-las.

Passei a observar as cenas no Discovery e no National Geographic Channel para conferir. Comecei a perceber que, após capturarem a presa, um dos leões se encarrega de morder o pescoço e respirar na sua traqueia para sufocá-la, enquando os outros aguardam. No caso de um bebê elefante, um outro leão ainda morde a ponta da tromba para que ele deixe de respirar.


Leões precisam se alimentar, assim como nós. Nem por isso infrigem uma dor desnecessária às suas presas. Capturam as mais fracas, matam-nas e depois as comem.

Li também que os índios americanos tinham um profundo respeito pelo animal que comiam. Que agradeciam ao animal e à manada pelo alimento. Assim, não penso que deveríamos parar de comer animais, embora eu seja vegetariana.

Lembrei disso porque aqui na Ásia eles têm o costume de comer as lagostas vivas. Eles as prendem, servem-nas vivas e vão tirando o sashimi “fresco” enquanto conversam. Discutimos este costume na aula de inglês e a minha colega coreana, que adora a iguaria, perguntou: “mas vocês acham que elas sentem dor?”.

Andando pelos mercados de Hong Kong vejo pequenos animais confinados, que me parecem estar passando por todo tipo de sofrimento. No Brasil, nos mercados que eu conhecia, já vinha "tudo" empacotadinho, sem forma. Cada um com as suas crenças.

Desejo do dia: ser mais gentil.


terça-feira, novembro 30

Millôr

Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixinhas de papelão e pedimos uma ligação para a infância. (Millôr)

Dia desses descobri que o Millor Fernandes tem um
site, ou melhor, um saite, como ele prefere. Lembrei que gostava dele quando criança, que lia e relia suas Fábulas Fabulosas e resolvi escrever-lhe. Fiz isso porque uma vez eu quase mandei um e-mail parabenizando o Sérgio Vieira de Mello, admirada com o seu feito na ONU. Mas não escrevi e logo depois ele morreu. Me arrependi. Carinho e admiração a gente não deveria guardar quando sabe que é algo que todos desejam (ou quase todos?).

Enfim, o velhinho (no bom sentido, pois ele tem 80 anos e olhar de 20) não é politicamente correto, principalmente com as mulheres e costuma ser infame, mas eu passei a infância gostando dele e sendo condizente com suas peraltices. Sendo assim, escrevi-lhe:

“Só para dizer que, quando eu era criança, adorava ir para a biblioteca do colégio ler seus livros, as Fabulas Fabulosas. Li muitas vezes. Agora, fico feliz de poder acompanhar o site. Você me ensinou muito sobre imaginação.Obrigada!”

Em duas semanas, recebi esta resposta: “Vá em frente, Liliane. Voe sem avião. Esse é o bom de voar. Abração, Millôr”

Fico feliz não porque ele respondeu, mas porque recebeu.


Além de ter um saite que é quase um blog, ele também já participou de um bate-papo na Internet. Copiei um trecho ilustrativo:

Anderson fala para Millôr Fernandes: Porque vc nao se candidata para a academia brasileira de letras como o Carlos Heitor Cony?
Millôr Fernandes: Anderson, eu sou há muito tempo candidato à Academia. Mas só aceito ir para a cadeira 38. A de Sarney.”

É o avô dos blogueiros!

Mais:

- Entrevista.
"Eu também não quero ser reconhecido apenas pelo meu talento. Eu quero posar nu!".
- Biografia.
- Poesia.
- Barata.
- Reflexões sem dor.
- Camponês.
- Mulher.
- Banheiro.
- Vovozinha.


Desejo do dia: O quê: Pequenas bolhas cheias de líquido claro ou amarelado que formam crostas quando se rompem. Como: Provocada pelo vírus da catapora, o herpes vírus, que fica incubado em um músculo do corpo e se manifesta quando há uma queda na resistência imunológica da pessoa. O porquê: sol de domingo. A radiação dos raios ultra-violeta (UVA e UVB) agem bloqueando a ação das células de defesa do organismo e reduzindo a proteção imunológica. Onde: lábio superior, canto direito. Então: dói. Desejo: saúde.

quarta-feira, novembro 24

A festa dos desejos

A decoração de Natal de Hong Kong já está começando a fervilhar. Logo logo vamos estar esbarrando em árvores, bolas, trenós e todos os ícones dessa data de união e consumo. E por falar em união, vamos também tropeçar em todas as famílias que se juntam para tirar fotos na frente desses enfeites. Uma mania. (Só para lembrar, 9O% da população de Hong Kong é budista e taoísta.)

É de ofuscar os olhos o que eles fazem por aqui. Os prédios imensos ganham uma decoração de neon colorido, de gosto duvidoso mas eficiente no quesito festerê. Exemplo aqui.

Para muitos, o Natal é uma data controversa e por isso eu não vou entrar em nenhuma questão sobre consumismo X magia, alegria X tristeza, saudades X união, Papai Noel da Coca-Cola X Menino Jesus, paz na Terra X “farinha-pouca-meu-pirão(ou peru?)-primeiro” etc. Eu só quero colocar para reflexão uma campanha que recebi. Por estar relacionada ao Natal, sei que ela enseja alguns dos empasses citados, mas enfim... Só sei que essa é uma data em que a pobreza costuma doer ainda mais.

“Gostaria de divulgar que os Correios abrem as cartinhas que as crianças mandam para o Papai Noel e tentam atender aos pedidos.
Inicialmente, é feita uma triagem das cartas para atender as comunidades mais pobres, creches, orfanatos etc.
Quem quiser e puder ajudar, pode ir no correio e ler as cartinhas, escolhendo aquela com que mais se identificar.Mas já aviso: haja coração! o que tem de criança pedindo comida,emprego para a mãe, caderno para estudar etc, é duro... uma das crianças apadrinhadas pediu um colchão para dormir... é triste, né?
É claro que tem muito pedido de bicicleta, barbie, poli, video-game. - Esses sonhos de qualquer criança - enfim - tem pedido para todogosto e bolso!
Depois que comprar o presente, basta entregar no próprio Correio,que eles se encarregam da entrega. (...)
Se alguém preferir, não precisa apadrinhar uma carta específica. Pode doar o que quiser, que o pessoal do correio seleciona para quem mandar.” (Não sei quem escreveu pois veio passando adiante)


Mais sobre a campanha no site dos Correios.

Desejo do dia: descansar.


terça-feira, novembro 23

Quase esqueci de mim


Eu tive muitos cães durante a minha infância, pois costumava levar os que encontrava na rua para a minha casa. Meu pai, gostando de animais e sabendo o quanto poderiam nos ensinar sobre relacionamentos, às vezes me deixava ficar com eles. Se davam um pouco de trabalho, também poderiam auxiliá-lo na ilimitada tarefa de nos ensinar a crescer.

Dentre tantos, eu tive um grande amigo vira-latas que me acompanhou durante toda a adolescência, de nome Paxá. Lembro de ter para com ele um amor consciente, a ponto de entender que ele não ficaria comigo para sempre, já que cães não vivem tanto quanto a maioria de nós, super-humanos.

Quando me lembrava disso, chegava bem pertinho daquele olhar imenso e lhe dizia com os meus olhos - dado que essa era a nossa melhor comunicação – algo terrivelmente piegas, mas eficiente:

- Sei que um dia você não vai estar mais aqui, então eu vou lhe dar um abração agora, porque quero lembrar para sempre dessa sensação gostosa. Lembrar que fomos muito amigos, que você existiu para mim e que eu amei você tudo o que eu podia, que fiz tudo o que eu podia.

Mais tarde, eu comecei a ter essa atitude também as pessoas que amo, entendendo que a vida é efêmera.

Mas foi somente bem mais velha que eu aprendi a me olhar no espelho e a fazer isso comigo mesma. Afinal, também quero ter sempre a certeza de que eu me amei tudo o que eu podia.

Há pouco tempo, recordando o meu bairro, lembrei da minha adolescência, dos meus antigos pensamentos e cheguei a me espantar com o quanto eu já havia esquecido sobre uma pessoa inteirinha que eu fui. Desconfio que eu não amava aquela menina descabelada que eu era, mas ela/eu, do seu jeito, tentava amar a todo mundo. Procurei-a na minha nova imagem no espelho e recordei frações do meu dia-a-dia. De uma adolescente chata, mas interessante, cheia de manias e teorias engraçadas, que se subestimava muito.

É difícil recordar de tudo o que ela/eu gostava e sentia, pois muitos detalhes se perderam ou estão trancafiados em algum esconderijo. Bem guardados para, quem sabe, evitar essas bisbilhotices futuras. Talvez um dia eu os encontre em alguma empreitada arqueológica da velhice – e ainda irão dizer que estou senil.

Estava pensando em fazer uma festa para essa menina, comprar-lhe um presente e até levá-la para um passeio, no qual eu poderia contar-lhe um pouco sobre mim, tentando relembrar suas alegrias e alguns desejos irrealizados.

Eis que o tempo não é uma ilusão? Os acontecimentos não estão dando voltas em torno de nós? Então por que eu não posso visitar aqueles dias? Ou ela me visitar? Por que não posso ter um encontro comigo mesma, mais nova, perguntar como eu estou e conversar? Quem disse que eu não posso? Nada que vive dentro de mim é passado e nem ninguém.

Eu já sei onde ela está, nos diários que eu guardei, mas que ficaram no Brasil... Quando eu voltar, teremos esse encontro. Vou contar sobre o mundo e as coisas que conheci e perguntarei a ela sobre seus sonhos, os que ela nunca contou para ninguém, todos aqueles que eu já esqueci.

Desejo do dia: aproveitar Hong Kong.

domingo, novembro 21

Usando folhinhas da Árvore dos Desejos


Desejo: um dia vou ter um desses... ou um vira-latas parecido. (Fonte)
O nome dele será Indiana Jones (Indiana Jones sim, e daí?).

Desde que fui morar sozinha, aos 18 anos, nunca mais tive um cachorro porque nunca mais morei numa casa ou, pelo menos, num apartamento grande o suficiente para isso. Assim, ele faz parte dos meus desejos: um dia terei filhos; um dia escreverei livros; um dia trabalharei para a ONU; um dia verei a aurora boreau; um dia aprenderei a usar a vírgula; um dia terei o Indiana Jones...

Pois é, enquanto isso, continuo a parar com cara de palhaça na frente das petshops, gerando sentimentos de pena e risos nos transeuntes.

Aliás, há muito que tenho uma dúvida: o que essas lojas fazem com os filhotes que ninguém compra?

Desejo do dia: uma alimentação saudável. Ou seja, força de vontade.

quinta-feira, novembro 18

É um trabalho sujo, mas alguém...

"Todo progresso está baseado no desejo inato e universal de todo organismo vivo de viver acima de suas posses." Samuel Butler

Quando eu era mais nova, era o terror das empregadas, faxineiras, governantas e afins, principalmente quando moravam lá em casa. Não só porque eu era egoísta, anti-social e pirralha, mas porque era um tipo de relação com a qual eu nunca soube lidar, para a aflição dos meus pais, que tentavam me transformar num ser humano educado e gentil.

Depois, comecei a me perguntar: para que possamos ter certos confortos algumas pessoas precisam ser pobres? Se todos tivessem as mesmas chances quem iria faxinar? Limpar as ruas? Construir prédios? Capinar? Às vezes eu ainda fico sem graça diante da nossa faxineira em Hong Kong, que vem limpar o meu chão, o meu banheiro.

Certa vez um professor de Economia Política me respondeu que as máquinas deverão fazer todo o serviço mais pesado no futuro. É verdade que a mecanização do trabalho é cada vez maior, mas ainda há muito que as máquinas não podem fazer e tão cedo não poderão.

O que significa que por muito tempo eu vou ter que passar por essas situações.

Com relação à hierarquia nas relações de trabalho, tudo bem, pois, a principio, todos têm as mesmas chances, mas eu teria sido uma péssima rainha.

(...)

O mundo tal qual ele funciona, está longe de um dia ser justo. Não há lugar para que todos tenham tudo o que dizem por aí que todos deveriam querer: casarão, fazenda, carro(s), iate, ilha particular e por aí vai. Por outro lado, comunistas, socialistas, anarquistas estão falidos. Só sobraram os capitalistas e os terroristas.

Depois de ter escrito isso, me deparei com a seguinte notícia: O Globo. "Charles acha que nem todos podem subir na vida. Príncipe causa furor ao criticar sistema educacional moderno, por dar esperança de ascenção aos súditos." Seriam palavras dele: "tudo é resultado do utopismo social que crê que é possível manipular genética e socialmente a humanidade e contradizer assim as lições da História". Será que ele quis dizer isso ou manipularam as suas palavras? Enfim, acho que compreendo a depressão da Diana.

The Mirror: "Know your place". The Independent. Outras opiniões (inglês).

Desejo do dia: estudar.

segunda-feira, novembro 15

Festas de Hong Kong: Festival Latinoamericano


No mês do Festival Latinoamericano, estão servindo churrasco brasileiro no Coyote, um bar mexicano, que sempre toca músicas latinas diversas (quase nunca brasileiras, porque em Hong Kong não tem uma única banda brasileira - ninguém nem para mandar "um banquinho e um violão").

Os cartazes sobre as mesas fazem a introdução ao cardápio típico: churrasco e caipirinha. A caipirinha até que foi aprovada, feita com a legítima 51, mas o churrasco... Deve ser como comer comida chinesa no Brasil.


Cartaz sobre a mesa, com explicações sobre o churrasco.



Detalhe, tradução livre:
“Churrasco (shoo-rahs-ko) tem sido uma tradição culinária por mais de três séculos no Rio Grande do Sul (Sul do Brasil) tornando-se também um prato nacional. Antigamente “gaúchos” (cowboys do Sul do Brasil) espetavam grandes pedaços de carne e colocavam para assar lentamente sobre as brasas, enquanto contavam suas aventuras pelas planícies.”

Já a Fiesta on the Beach, na praia de Pui O, foi ótima, começou de manhã e entrou pela noite, reunindo latinos, agregados e simpatizantes, com direito a muita salsa e merengue (e nenhum samba), frescobol, futebol, vôlei, biquines, malemolência e bandeira do Brasil, porque brasileiro nunca perde uma boa chance de aparecer.
Uh tererê!


Brasileiros e amigos X ingleses e amigos


Mesa brasileira

sexta-feira, novembro 12

Cotidiano

Eu tô com o dedão do pé coçando. O Bruno, que não acredita nem em duendes, disse é para eu não coçar porque isso significa dinheiro (?). Às vezes eu não sei quando ele está falando sério.

Devo estar prestes a receber uma bolada pois algum bicho me mordeu e coça muito, pertinho na unha. Não me lembro de ter visto formigas em Hong Kong. Para compensar, o outro pé, que foi pisado ontem por um salto agulha ensandecido, está doendo. O que significa um pé pisado por salto agulha?

Eu ia perguntar para o Bruno, mas ele está lá, concentrado, trabalhando. Ele é uma criatura disciplinada que, quando não está na China ou numa reunião por aqui, trabalha em casa, no micro. Ele põe uma musiquinha e fica lá absorto. Às vezes, como agora, eu fico na sala, entretida com o laptop e nós trocamos uns comentários a cada uma hora. E nem precisamos gritar, no nosso apartamento “imenso”.

Como ele coloca para tocar as 999 mil músicas do arquivo de forma aleatória, de tempos em tempos, surgem bizarrices como essa que estamos ouvindo agora: Trem Azul, do Roupa Nova. “Te dou meu coração, queria dar o mundo...” E ele ainda companha um trecho que acabou de aprender: “confessar, sem medo de errar...” e cantarola o resto. Às vezes faz isso porque sabe que eu vou rir, às vezes por viagem mesmo.


Depois de quase 10 anos, de vez em quando, penso que ele é na verdade uma parte de mim fazendo coisas que eu não poderia estar fazendo naquele momento ou coisas que eu faria se fosse homem ou coisas que eu faria se eu quisesse ser outra pessoa. Ou ele é simplesmente a pessoa que eu seria se tivesse que viver comigo (?).


América, “A horse with no name”, la,la,la,la,la,la….

Com o pé que dói eu coço o pé que coça e com o pé que coça eu faço carinho no pé que dói. Isso é amor. Se não fosse confortante e divertido, não seria amor.

Desejo do dia: risos.

Ah, o Bruno é engenheiro de qualidade de uma empresa brasileira de telefones.


quarta-feira, novembro 10

Rapidinha

Variações sobre o mesmo tema...

Entre aqui e ria :)
com alguns americanos que estão pedindo desculpas. (Descobri aqui)

Entre aqui e chore :(
por um brasileiro dando uma de americano fundamentalista wannabe.

Mais sobre o assunto.

Assim eu nem preciso falar nada.

O desejo do dia está no primeiro post de hoje e vale para amanhã também!

Ainda sobre comida

Pastel, aqui em Hong Kong? Como se diz lá na Ilha: “Mofas com a pomba na balaia!”

Até onde eu fiquei sabendo, aquele pastel do “chinês da esquina” ou da feira é uma invenção dos chineses que foram para o Brasil e surgiu a partir do bolinho primavera. Bom, lendas urbanas a parte, o fato é que não tem disso aqui não. A não ser no nosso “Buteco”, um bar de esquina de um nepalês chamado Biro, muito gente-fina, onde os meninos vão tomar cerveja gelada toda quarta-feira, depois do futebol (e sempre que surge uma chance).

Os meninos ensinaram o Biro a fazer um pastel de queijo no brazilian style, assim como a picanha, que ele compra de uma importadora do Brasil (pois aqui os cortes de carne são diferentes). Certa vez, rolou até filé mingnon com Catupery, aquele queijinho com freqüência contrabandeado na mala de brasileiros viciados (não vendem Catupery aqui, o que prejudicou 50% do meu cardápio. Batata-palha? Mofas!).

Assim, sempre que bate aquela vontadinha, a gente corre para comer o pastel do nepalês da esquina.

Por outro lado... Dia desses, durante um jantar, um fornecedor perguntou para o Bruno se ele gostava de “camarões frescos no vinho" e ele disse que sim, como sempre. Na verdade é uma oportunidade para os caras comerem o que eles adoram às custas da empresa. Por que o Bruno iria acabar com essa alegria?

Entre os pratos principais, veio um prato fundo transparente onde se via um líquido escuro, que ficou fechado. Depois de um tempo, curioso, o Bruno abriu a tampa e lá estavam, boiando no vinho, camarões vivinhos da Silva. O anfitrião disse que eles ainda não estavam prontos, que eles tinham que morrer primeiro, bêbados e felizes, no vinho. Quando os chineses começaram a comer os bichinhos, que já estavam quietos, o Bruno pegou um, mas ele pulou. Resolveu então perguntar como se matava o pobre e alguém na mesa respondeu: morde a cabeça!


O Bruno deu um jeito de cortar a cabeça da criatura com os palitinhos e comeu só unzinho.

Desejo do dia: pastel de queijo.



segunda-feira, novembro 8

Bicho-grilo


A Crossroads é uma ONG de Hong Kong cujo trabalho é recolher doações de todo o território e enviar para outras organizações do mundo que estejam precisando. Assim, é possível perceber quanta riqueza há num lugar tão pequeno como Hong Kong. Quando um hotel troca seus móveis, quando uma empresa troca computadores, tudo isso pode ser doado para a Crossroads. Além de roupas, livros, óculos, material escolar... Voluntários separam, empacotam e colocam o material em containers, que empresas transportam de graça para outros países.

Uma outra organização, ligada à Crossroads, a Global Hand, faz um trabalho complementar, coordenando doações de todo o mundo e fazendo-as chegar até as organizações que precisam, sem que seja preciso passar por Hong Kong.

Tudo isso numa estrutura muito simples e até humilde, na qual ninguém é contratado, todos são voluntários e as instalações são emprestadas pelo governo.

Além de ser ajudada por adultos voluntários, grupos escolares e outros diversos, a Crossroads também tem um programa no qual proporciona uma atividade, roupas e transporte para refugiados, até que encontrem algum trabalho. Agora, uma vez por semana, eu “viajo” durante uma hora para chegar até a Crossroads, ajudando naquilo que eu sei: assuntos administrativos.

Os produtos doados são normalmente de boa qualidade, bonitos e caros. Por mais que eu saiba que esse material vai ser importante na vida de algumas pessoas, ao observar os refugiados africanos trabalhando no empacotamento, tão pobres que parecem ter saído das fotos da Etiopia e demais países que decoram as paredes, fico pensando em como vai ser difícil diminuir as injustiças sociais deste mundo. Eu sei que não é só de doações que essas pessoas precisam, que isso não resolve o problema. Por outro lado, um computador pode mudar a vida de muitos de uma forma que nem é possível prever. Às vezes, ter uma cama para dormir já muda muito. Ter um brinquedo para brincar, muda muito. Se isso pode ser feito, por que não?

Em janeiro voltaremos para o Brasil, ainda nem sei no que vou trabalhar, se volto para o meu antigo trabalho. O que sei é que gostaria de fazer alguma coisa em relação a isso:

Para relator da ONU, fome no mundo é uma "vergonha".
27 de Outubro de 2004
"Como podemos continuar vivendo com essa vergonha?". A pergunta foi feita por Jean Zigler, relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, em um relatório sobre o acesso à comida no mundo. De acordo com o documento produzido por Zigler, a cada minuto doze crianças com até cinco anos morrem no mundo em consequência de doenças relacionadas à falta de comida e o número de desnutridos não pára de crescer. Isso apesar de a produção de comida ser suficiente para alimentar toda a população mundial. (Fonte)


Dizem que os jovens são idealistas e querem mudar o mundo. Mas ninguém diz em que idade isso acaba.

Desejo do dia: estar no caminho certo ou então, fazer um.

sexta-feira, novembro 5

"Eu sou da América do Sul...

... eu sei vocês não vão saber." (Para Lennon e Macartney, Milton Nascimento)

Esta semana tem Latinoamerica Festival em Hong Kong, promovido por alguns consulados do nosso continente, inclusive o do Brasil. Vão ser muitas festas, salsa, samba, churrasco, futebol e mostras de arte e cinema.

Mesmo com tantas caricaturas, tenho orgulho da nossa cultura. Apesar de alguns brasileiros não demonstrarem muita identificão com os vizinhos, gosto de ser latinamericana. Gosto, ainda que os americanos, com sua mania de rótulos, tenham dado um tom pejorativo ao termo, chamando maliciosamente os seus imigrantes de latinos e “chicanos”.

A Ásia costuma se apresentar como um mosaico cultural, um lugar exótico a ser visitado. Embora cada país tenha suas características e faça sua própria propaganda, há muitas reportagens, documentários e material de marketing considerando a Ásia como um todo. Roteiros para viajantes incluem visita a vários países, que nem sempre são próximos. A América latina é tão bonita quanto, mas não faz a mesma propaganda. Também apresenta uma cultura milenar, com cidades e templos antigos, belas danças e artesanato, mas não vende tanto.

Há um pouquinho de ilusão a respeito da "exoticidade" da Ásia. Fora algumas diferenças culturais e arquitetônicas evidentes, muito do que se vê é artificial, existe para o turismo. Máscaras, artesanatos, apresentações, são produzidos em massa. Excursões são realizadas com centenas de turistas, como numa Disney cultural. É difícl alcançar o que é realmente original. Para isso, é preciso tentar roteiros alternativos e colher boas dicas. O resto é apenas o velho e belo terceiro mundo (com exceção do Japão, claro). É claro que a Ásia é interessante e bonita, que vale à pena ser visitada e que aqui se aprende muito. Mas a América Latina também é muito bonita!

É uma pena que tenhamos sido tão massacrados pelos nossos antepassados colonizadores – que fazem parte de nós, agora – a ponto de idiomas e culturas inteiras terem sido perdidos. As pessoas da Ásia ainda parecem asiáticas, mas nós, na América, nos misturamos e nos transformamos. Adquirimos muito da cultura européia e, nos últimos anos, também da norte-americana. Criamos uma nova cultura.


Na América Latina nasceram Garcia Marques, Borges, Neruda, Tom Jobim e muitos outros. Nasceu o tango, o samba, a salsa etc. Tantos talentos e manifestãoes artísticas, que torna-se difícil e injusto enumerá-los.

Diz-se que temos muitos problemas como o paternalismo, a indisciplina, a corrupção etc. Mas penso que é possível dizer que a América Latina tem uma bela identidade bruta, que (sem esquecer nossos antepassados, povos guerreiros) revela uma cultura pacífica, de muita imaginação, emoção e de ternura. Ainda é preciso entender, lapidar e fazer brilhar essa identidade.


É como se estivéssemos guardando algo especial para mostrar ao mundo.

Desejo do dia: assistir ao DVD "Tambores de Minas", de Milton Nascimento, especialmente "Nos Bailes da Vida". Um dos melhores shows que assisti na vida.

quarta-feira, novembro 3

Culinária chinesa... Quem quer pão?

Hum, vamos começar com o café da manhã.

Ao viajar pela Ásia, é preciso prestar atenção nas características dos hotéis e ver se eles servem café-da-manhã ocidental. Sim, porque os chineses e muitos outros asiáticos comem no café da manhã o mesmo que nas demais refeições: arroz, noodles, salada, carnes etc. Mesmo quando o hotel oferece a opção ocidental, dependendo de sua categoria, às vezes isso quer dizer que vai ter leite, café, sucrilhos e pão com geléia, só. Nem um mísero queijinho. Enquanto isso, bombando no buffet ao lado, todo tipo de pratos quentes.

Por mais apetitoso que pareça, um mecanismo interno me impede de atacar um fried rice com camarão às 8:00 h da manhã... O Bruno já é um ser humano bem mais flexível, mas também não encara, muito.

Hotéis melhores servem panquecas, omeletes, presunto cozido, salsichas, vários tipos de pães, sucos, iogurte. O mais raro mesmo é o queijo. Lembro com nostalgia dos cafés maravilhosos do interior de Santa Catarina e de muitas partes do Brasil... Ainda bem que eu moro em Hong Kong onde podemos comprar delícias do mundo todo e tomar um gostoso café no Starbucks, enquanto outros mandam ver no noodles.

De vez em quando, é chato lidar com tantas diferenças, mas sempre concluo:

Deus criou um mundo com diferenças culturais para a gente se divertir e não para ficar brigando!

Queria que mais gente entendesse isso.

Desejo do dia: passa gripe chata! Hoje fomos no médico, um oriental super-simpático. Um amor, eu diria. Medicina chinesa? Que nada, voltei para casa com um vidro de xarope e quatro pílulas diferentes. Espero melhorar.

segunda-feira, novembro 1

Culinária chinesa...


Mesa tradicional de restaurantes chineses, redonda e com centro giratório.

Pergunta do Bruno, no último post: "Estou escrevendo um conto que envolve uma região oriental e, por isso, gostaria de saber alguns pratos exóticos para nós e comuns aí onde vc está. Pode citar alguns?"

A culinária oriental, inclusive a chinesa, tem muitas delícias até bem "normais" e assim, eu acabo sempre pedindo aquilo que eu sei que é bom. Para falar sobre pratos mais “diferentes”, preciso do auxílio do meu marido (que também é Bruno), cujo lema de sobrevivência nos restaurantes chineses é “comer primeiro e perguntar depois”.

Ele é sempre convidado para almoçar ou jantar pelos fornecedores, faz parte da cultura chinesa. Inclusive, se você for vendedor e tiver que agradar, tá ferrado, pois eles te desafiam a virar copinhos de vinho chinês, batendo com eles na mesa e bradando: “kampai”. E você pode ser desafiado por cada um dos componentes da mesa (coisa linda!). Como o Bruno é cliente, passa batido nessa parte.

Rola um bolinho primavera? Um franguinho xadrez? Doce ilusão! O Bruninho me passou um roteiro básico de um jantar ou almoço tradicional (numa mesa redonda de centro giratório):
1º - São organizadas as louças: bowl (a cambuquinha principal), prato (para cuspir os restos), colher para sopa (aquela impossível de ser usada sem fazer barulho), palitinhos e o copinho para o chá, juntamente com a toalhinha para limpar as mãos.
2º - É servida a entrada. Exemplos: água viva apimentada, pé-de-galinha cozido e pálido, língua de pato, amendoím.
3º - O anfitrião de maior nível hierárquico (ou alguém designado por ele) pede os pratos principais.
4º - Durante a refeição, serve-se continuamente chá ou água quente.
5º - A sopa chega. O garçom serve o caldo para todos, separa a parte sólida e a coloca em um outro prato.
6º - Chegam quatro ou cinco tipos de carne e alguns pratos de legumes cozidos. Normalmente, eles servem vários tipos de carnes que para nós não combinariam entre si: porco, boi, aves, todo tipo de miúdos e frutos do mar (TODOS os existentes nos sete mares), enfim, animais diversos.
7º - Quando todos parecem satisfeitos, para finalizar, pergunta-se se alguém ainda precisa de arroz (puro), noodles ou pão com recheio de porco ou com leite condensado (segundo o Bruno, “para dar uma entupida”).
8º - Servem frutas (dificilmente uma sobremesa).
9o – Em meio ao jantar, ainda pode rolar o tal “kampai”!

Bom, esse é só o roteiro. Falta falar sobre variações do cardápio e sobre os diversos pratos do dia-a-dia, sobre o café da manhã e as sobremesas. Por exemplo, você já ouviu falar do “ovo de mil anos”? Ou do tofú fedorento? Pele de pato? Lula seca no palito? Aqui tem sim senhor!


Mas essas são cenas do próximo post, porque este já está gigante!

Li por aí que os chineses têm um ditado: "Chule feiji zhi wai, yangyang duo chi". Ou seja: "Na China comemos tudo exceto aviões e trens".

Desejo do dia: Boa viagem para a minha mami.


sábado, outubro 30

Sobre a China, parte II (de N)


"Não cuspa (no chão)", cartaz no corredor de um prédio, na periferia de Hong Kong.

Comentário do Fernando do último post: “Liliana, é verdade que os chineses de Hong Kong são bem diferentes do resto do país? Na universidade americana onde estudo, os chineses têm uma fama terrível de serem pouco higiênicos, falarem muito alto e terem pouca educação. Eu achei que fosse racismo americano, mas tenho que admitir que estou vendo muitos exemplos disso.”

Sim, os chineses de Hong Kong são diferentes. Ao contrário da China mailand, que tem milhares de anos de história, Hong Kong é um território colonizado recentemente. Fazia parte da China sim, da província do Cantão, mas não era muito habitado. Em 1842, foi cedido aos ingleses e devolvido em 1997. Durante este período, enquanto Hong Kong se desenvolvia capitalista, a China sofreu com grandes conflitos e transformações, tornando-se, por fim, um país comunista.

Só lendo livros como "Cisnes Selvagens" para entender um pouco do que se passou por lá. A China, como outros países, viveu regimes que promoveram a desigualdade social, com grande parte da população vivendo na pobreza e uma minoria em grande luxo. Até por isso a revolução camponesa teve tanto apoio.

Quando os comunistas tomaram o poder, professores, intelectuais, empresários, pessoas que significavam um estilo de vida burguês, foram castigados, deportados, mandados para o campo, para “aprender” com os camponeses. Muitos destes últimos tinham desprezo pela classe dominante e fizeram os novos colegas passar por maus bocados. No período da revolução cultural (1966), iniciou-se um movimento contra toda a literatura anterior a Mao, que foi queimada, assim como as obras de arte, templos e tudo o que fosse associado à vida burguesa. Muitas dessas obras vieram parar em Hong Kong. Por isso, uma das atrações da cidade são as lojas de antiguidades, vindas da China.

Nesse movimento, também foram condenados comportamentos burgueses como dizer “por favor” e “obrigado” ( considerados hipocresia burguesa), usar enfeites e até alguns hábitos de higiene. Pessoas eram denunciadas e punidas por manisfestarem qualquer contrariedade a isso. O Partido controlava seus pensamentos por meio das sessões de “autocrítica” organizadas por líderes de cada rua. Pais deviam denunciar filhos e vice-versa.

Em meio a isso, a China ainda passou por um grande período de fome, no qual boa parte da população morreu.

Por tudo isso e por muitos outros fatores, é possível compreender que muitos chineses comam de tudo, arrotem, peidem, façam barulho ao comer e tenham os dentes cariados, não?

O pessoal que trabalha com eles por aqui também costuma ficar indignado com a falta de iniciativa e de opinião. É preciso lembrar que até pouco tempo atrás poderiam morrer por terem iniciativa (afinal o que não é permitido é pribido) e opinião.

Em Hong Kong é um pouco diferente. Há um meio-termo entre o comportamento e a cultura inglesa e a chinesa, mas também difícil de entender completamente.

Bom, nós brasileiros também não somos perfeitos não é mesmo? Afinal, somos todos seres humanos, tentando sobreviver da maneira que nos ensinaram.

Desejo do dia: "passa" tosse chata.

quinta-feira, outubro 28

"Lost in Translation"

Beijing, avenida em frente à Praça da Paz Celestial

"Lost in Translation" é um filme que penso que só quem já visitou o Oriente pode entender bem. Assistimos o outro dia e rimos muito. Nosso passeio em Beijing (Pequim) foi parecido, pois lá não se fala muito o inglês.

Beijing é uma cidade ampla e aparentemente organizada, de grandes avenidas, para 2 milhões de carros e 8 milhões de bicicletas. É a capital de um país comunista, onde os monumentos são imensos e a história se conta em milênios. Onde as pessoas podem ser gentís e amistosas ou ignorar você completamente. Para entendê-la é preciso ter um olhar diferente, decifrando os costumes e comportamentos como se estivessem escritos em mandarim. Talvez ter um olhar menos capitalista, individualista, apressado e idealista. Saber olhar com os olhos de uma outra cultura e de uma outra história.

A Cidade Proibida é coração de Beijing, imensa e totalmente voltada para a figura do imperador. Memória de uma época em que todos viviam para ele. Depois, o comunismo fez com que todos passassem a viver para o povo - talvez nunca para si mesmos. A cidade é, assim, um monumento do que ficou no passado.
Em frente à Cidade Proibida está a Praça da Paz Celestial, rodeada por edificações mais recentes do governo, igualmente grandes e imponentes. Nela, as pessoas idolatraram Mao, manifestaram-se contra ele, festejaram e morreram. Ao redor, os quarteirões são murados e encerram vilas antigas e humildes. Ambientes muito diferentes, no centro da China moderna.

Beijing não tem muitos prédios altíssimos, coloridos e modernosos como Hong Kong, mas Shanghai (Xangai) está sendo construída assim, para ser uma nova Hong Kong. Beijing é como Floripa, uma cidade administrativa e turística. Sua amplidão lembra Brasília.

Olhando pelos becos e através das aparências, por toda a cidade, em meio às largas avenidas, hotéis e centros comerciais, pode-se notar algo como uma pobreza cinzenta. A economia da China está crescendo de forma acelerada. Algumas pessoas vêm enriquecendo muito, mas a grande maioria parece permanecer na mesma pobreza igualitária. Por outro lado, não se vê muita miséria, que dizem existir mais no interior. A vida parece boa e a cidade demonstra um grande respeito pelas pessoas mais velhas, que acordam cedo para se exercitar nos parques.

Em Beijing, os chineses parecem ter uma alegria comedida, vestindo-se com sobriedade em cores fortes, cinza e preto. Os homens usam ternos para passear no fim-de-semana, ternos escuros, que acabam amarrotados.

Beijing me deixou sem palavras, sem entender nada. Tenho aprendido e visto tantos detalhes, que não sei como descrevê-los. Admito que não sei o que se passa por detrás daqueles muros, padrões e olhos escuros. Acho que precisaria de muito tempo para entender.


Fotos da Viagem.

Mais sobre a China.

Desejo do dia: Parabéns para o sogrão-zen!

quinta-feira, outubro 21

Da série, cartazes de Hong Kong

Lembram do Sundae de feijão?

Pois essa semana o que encontramos não foi uma comida diferente, mas uma comida comum apresentada de maneira curiosa.

Aqui há uma cadeia de lanchonetes chamada Deli France que serve conjuntinhos bem gostosos de sanduíche + sopa + chá ou café. Pois então, inverno chegando em Hong Kong e agora eles estão implementando aquela tradicional "sopinha dentro do pão redondo". Mas o pratinho vem com instruções porque afinal, trata-se de um povo muito organizado.

Confiram as instruções no cartaz abaixo e aprendam um pouco. As três figuras acima ensinam como comer o paozinho. As abaixo, indicam o que você não deve fazer.



Não fazer:
- Servir a sopa nos potinhos.
- Virar a sopa na boca.
- Abrir todo o paozinho e derramar a sopa.
- Colocar diretamente no fogo para esquentar.
- Enfiar tudo de uma vez na boca.
- Tomar a sopa de canudinho.

Outro cartaz que mostra o que é viver numa sociedade organizada é este, que Policiais simpáticos vieram nos entregar um dia desses, quando estávamos confraternizando no “Buteco” .




“A tranqüilidade faz uma sociedade harmoniosa.
Fale baixo à noite, por favor.”


Por isso, quando a gente faz alguma coisa errada por aqui, como atravessar quando o sinal está aberto para os carros, a gente grita: Argentina, Argentina!!!

Desejo do dia: Uma boa viagem. Estamos indo passar o fim-de-semana em Beijing. Vou verificar se realmente esse blog é censurado por lá. Se for, até a semana que vem.

quarta-feira, outubro 20

Sabemos. Fazer o quê?

"É um erro confundir o desejar com o querer. O desejo mede obstáculos, a vontade vence-os." Alexandre Herculano

Ano que vem voltamos para o Brasil, aquele país da América Latina, dominado pela corrupção e pelo tráfico de drogas, com generais bigodudos enfeitados de medalhas e políticos de terno branco. “Qual deles?”, perguntaria algum distraído. “Aquele do Ronaldo” eu completaria. “Ah, já sei.” seria a reposta, ao som daquela rumba que os filmes americanos colocam quando mostram o Brasil.

Reclamamos dessa imagem de país pobre e dominado por alguma guerrilha, mas não fazemos por merecer outra. Mesmo numa cidade não muito grande como Florianópolis, o tráfico domina os morros, a polícia sabe quem são os bandidos e sabemos que a polícia sabe. Sabemos que todo mundo sabe quem são as famílias ricas que comandam o tráfico e sabemos quem são os políticos dessas famílias e continuamos votando. E sabemos que a imprensa também sabe. O que não sabemos é o que fazer. Ou até sabemos, mas não ligamos tanto assim.

Sabemos que nos bairros vizinhos as famílias passam fome e todo tipo de necessidade, que morrem por falta de atendimento nos hospitais, mas fingimos que o problema é só deles.


Sabemos que as crianças, além de comida, precisam de roupas, de estudos, de lazer, de saúde, mas que não têm nada disso. Sabemos que os pais procuram emprego sim, mas não encontram, que muitos nem foram capacitados, como seus filhos também não vão ser.
Sabemos que a calamidade leva à depressão e ao álcool e violenta as famílias. Sabemos que as brigas se resolvem na faca e na bala.
Sabemos que essas pessoas são a clientela do sistema prisional, que sabemos que não funciona, mas fingimos que acreditamos. Pensamos que são “eles”, porque a mídia nos faz acreditar que estamos de fora, mas no fundo, sabemos que sofremos também.

E com tudo isso, sabemos que as ruas não estão seguras e que podemos sofrer com as consequências dessa situação. Só não sabemos quando.

Ainda assim, ficarei feliz de voltar para casa.

Uma vez perguntaram para o meu pai por que ele, como coordenador do Movimento Bandeirante, gastava seus finais de semana cuidando das "crianças dos outros" e ele respondeu: “_ Porque estou cuidando do mundo no qual os meus filhos vão viver!” (Te amo, pai).

Digo isso porque estou cada dia mais chocada com as notícias que recebo da Guerra do Tráfico no Rio de Janeiro. E no País.

Desejo do dia: luz.

segunda-feira, outubro 18

Sobre as Festas de Hong Kong: Carnaval


“O Tio Chan está querendo conhecer a nossa batucada...”

Comentário de uma alemã sobre o Rio Street Carnival, 2004, em Hong Kong:
“_ Até na Alemanha a gente sabe que o Carnaval é em fevereiro!”

Como bons brasileiros acostumados com "carnaval fora de época", nem ligamos, esquentamos nossos pandeiros, reunimos alguns apetrechos e fomos para a “avenida”.

O pessoal aqui é tão desacostumado com esse tipo de alegria que parava para tirar foto com os brasileiros de máscara. Deviam achar que faziam parte das atrações da festa, já que ninguém por aqui faria isso “de graça”.

Outras fotos da festa, aqui.

Brasileiras: Verena, eu (de peruca) e Cibele.

Isso é o máximo de festa de rua com fantasias que se vê por aqui. O Ano Novo Chinês tem um grande desfile e show de fogos, mas não tem carnaval de rua. O público não se envolve.

Isso me lembra que as imagens do Carnaval no Brasil deste ano passaram por aqui e todos estavam maravilhados.


E eu sempre admirada: como podem existir culturas tão diferentes?

Desejo extremamente fútil do dia: gostei do estilo da peruca, mas não vou alisar e pintar o meu cabelo (até porque o Bruno gosta dele cacheado também). No entanto, queria achar algum tipo de franja que combinasse comigo. Dúvida existencial!

sexta-feira, outubro 15

Sobre as Festas de Hong Kong: Girls Night


“Querido diário,

O dia em Hong Kong amanheceu luminoso, fresquinho, quase uma Floripa.
Tenho que me recuperar da Girls Night* de ontem, dos shots de tequila assassinos e similares, das dores no joelho de tanto dançar de salto, da rouquidão provocada pelas tentativas de
comunicação no ambiente barulhento e empestado de fumaça das boates de Wan Chai. Acabei de comer no Mc Donald's (Argh!) e comprar um chocolate de sobremesa, porque desgraça pouca é bobagem.”

* Girls Night: diz a lenda que, como os maridos de HK estavam sempre viajando a trabalho, as jovens esposas resolveram começar a fazer encontros noturnos femininos, durante a semana. Tudo começou com lúdicos joguinhos de "Imagem e Ação" e acabou passando para a ação, ou melhor, baladas com direito a produção, salto alto e bebidas de graça. Como diz o meu querido amigo Mário San “Isso não vai prestar!”.

Ontem, particularmente não prestou ou melhor, prestou demais, apesar de um ou outro show de horror, foi ótimo. Desde de o dia em que a Drica jogou um copo de cerveja na cara do DJ Asshole do Joe Bananas - porque ele não queria tocar músicas brasileiras - que a gente não tinha tantas histórias. Sim, tiramos fotos, mas elas estão passando pela aprovação dos órgãos de censura.


Continuando: hoje tem Carnaval em Lan Kwai Fong, com cabrocha brasileira e tudo.


E por falar em balada, outro dia o primo Frederico me mandou um e-mail com 19 cantadas para mulheres feias. Algumas:
"- Vc tem fogo? Sim! Então cospe, dragão!
- Uma mulher feia passa por você e quando ela estiver de costas, grite bem alto: "volta, volta, volta..." Quando ela olhar pra trás toda feliz complete a frase: "Volta pro inferno, demônio!."
- Quando três meninas estiverem andando na rua vc diz: "olha as três graças: a Sem Graça, a Desgraça e a Nem de Graça."
E por aí vai...

Desejo do dia: água.

quarta-feira, outubro 13

Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou...

... mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo. (Tempo Perdido, Legião Urbana)

“Manú, a menina que sabia ouvir” de Michael Ende (mesmo autor de História Sem Fim) é um dos livros que tornaram a minha infância mais intrigante. Era “grosso”, “complexo” e eu o amava. Nele, obscuros homens de cinza convenciam as pessoas a economizar o tempo e lhes roubavam cada segundo economizado, transformando esse tempo em charutos que fumavam para continuar existindo.

À medida que as pessoas iam economizando as horas, os dias ficavam mais curtos, até que a cidade acabou paralizada.

É preciso a atenção de Manú para perceber o que há de estranho com esta cidade onde moro, que encanta pela modernidade e diversidade. Onde as pessoas passam como sombras e as almas coloridas se destacam. Desconfio já ter visto ao acaso, sorrateiros, homens de cinza com seus chapéus-côco e pastas de executivo. Muitos habitantes devem ter caído em seus golpes, pois em rostos orientais e estrangeiros adormecem olhares fantasmagóricos, vazios de tempo, de quem esquece de si mesmo.

Será contagioso? Algo como a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave)? Será por isso que algumas pessoas pararam de respirar e morreram? Principalmente os idosos, que sabiam que aqui costumava haver um mar, montanhas e outras paisagens. Agora? Novas fisionomias, novos prédios, novos fantasmas, novos apartamentos assombrados. Só se salvaram os que não negociaram o seu tempo, que continuam a ver as antigas paisagens e passam como se não estivéssemos aqui. Para esses, nós somos as assombrações.

OBS: O que eu gosto de Hong Kong é que ela torna evidente as almas coloridas. E são tantas! Num olhar atento você pode ver passar pessoas que estão vivendo intensamente suas emoções. Com um pouco de sorte você pode conhecer algumas delas e eu já conheci várias.

terça-feira, outubro 12

Sobre os prédios de Hong Kong

Do que você lembra quando pensa em uma mulher perua?

Espelhos, salto alto, rosa, lilás, neon, design, exagero?

Assim são muitos prédios de Hong Kong em dias de festa, poderosos, escandalosos, enlouquecidos.
Trocam de cor como as mulheres trocam de roupa.

Saudades de Floripa, que só troca de vento.


Desejo do dia: dried mango!!!
E Parabéns para a Simone, esposa do meu pai e mulher de primeira qualidade. Tá cuidando bem do gatão! Sejam muito felizes!!!